GOL tem perda recorde no trimestre

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Uma combinação de gastos para reorganizar a Varig, alta dos custos com combustível e vôos mais vazios levaram a Gol Linhas Aéreas a registrar o maior prejuízo trimestral de sua história. A companhia aérea, segunda maior do país, teve perda de R$ 216,8 milhões entre abril e junho deste ano, contra lucro de R$ 157,1 milhões em igual período de 2007. No dia em que a Gol anunciou seu pior resultado, a TAM antecipou a divulgação de seus números, que estavam previstos para amanhã. Com ganhos de escala, aumento de tarifas e contenção de despesas, a líder de mercado mostrou lucro líquido de R$ 50,2 milhões no segundo trimestre, contra prejuízo de R$ 28,6 milhões nos mesmos meses do ano passado. Os resultados de ontem fecham o terceiro trimestre consecutivo em que a Gol registrou prejuízo e a TAM, lucro. Eles mostram, também, que os efeitos da compra da Varig, em março de 2007, fizeram a Gol interromper um ciclo de três anos - entre o terceiro trimestre de 2004 e o terceiro trimestre de 2007 - tendo apenas lucros e todos eles maiores do que os da TAM. Não por acaso, o valor de mercado da Gol em bolsa é, desde o primeiro trimestre deste ano, menor do que o da concorrente, embora tenha sido superior em todos os trimestres entre 2004 e 2007.
Entre abril e maio deste ano, apesar dos resultados finais opostos nos balanços das rivais, as duas companhias aéreas registraram praticamente o mesmo crescimento de receita, em torno de 27%. Como TAM e Gol detêm, juntas, 93% do mercado doméstico e 99% do segmento internacional, elas se aproveitam praticamente sozinhas do aumento da demanda por transporte aéreo no Brasil. A Gol elevou suas vendas para R$ 1,46 bilhão, ajudada por um aumento de 20% na demanda e de 7,7% no aumento dos preços (indicado pelo chamado "yield", que mostra quanto cada passageiro pagou por quilômetro voado). A TAM, por sua vez, registrou receita de R$ 2,51 bilhões, impulsionada por elevação de 15,5% na demanda e de 10,3% nos preços. Na linha dos custos operacionais, o aumento foi semelhante nas duas aéreas: avanço de 37% na TAM e de 34,5% na Gol. O componente mais relevantes foi, sem surpresas, o combustível, que sozinho representa mais de 40% do custo total. Na TAM, a conta do insumo saltou de R$ 641 milhões para R$ 989 milhões. Para a Gol, houve também impactos extraordinários nos custos de manutenção decorrentes da devolução de aeronaves.
A TAM conseguiu absorver mais o aumento de custos, tendo registrado lucro operacional (R$ 587,6 milhões), enquanto a Gol teve dificuldades em dilui-los e registrou perda operacional (R$ 71,5 milhões). Uma das razões para isso é que a TAM tem conseguido voar com aviões mais cheios cobrando tarifas maiores. Obtém, portanto, uma receita proporcionalmente maior em relação a sua oferta do que a concorrente. No segundo trimestre, a Gol conseguiu vender 64,6% dos seus assentos, quando a taxa necessária para cobrir os custos era de 77,8%. A TAM, ao contrário, voou com 70,4% dos aviões cheios, quando os custos exigiam 68,6%.
Ambas as empresas consumiram caixa para fazer frente à inflação dos gastos. Foi a linha das despesas, porém, que determinou a diferença entre as empresas - inclui gastos administrativos, comerciais e o resultado financeiro. No caso da Gol, elas subiram 53,5%, influenciadas por aumento nos gastos com vendas e fechamento de bases internacionais na Europa e no México, resultado do cancelamento dos vôos de longo curso, deficitários, da Varig. A TAM, por sua vez, pisou no freio e reduziu os gastos em 1,8%, principalmente com vendas. Ontem, em teleconferência, a Gol afirmou que deverá continuar registrando despesas de reestruturação da Varig até o fim do ano, mas estima ter, de forma consolidade, lucro no terceiro trimestre, entre julho e setembro. A companhia espera autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para integrar a Gol e Varig numa única estrutura e obter sinergias que devem gerar, segundo a empresa, economias anuais de R$ 180 milhões. As marcas, entretanto, serão mantidas separadas, garantiu o presidente da empresa, Constantino de Oliveira Jr. A companhia também cancelou a chegada de sete aviões e reduzirá em 5% o aumento de capacidade previsto. A teleconferência da TAM acontece amanhã.