Investidor deve ter cautela e evitar riscos excessivos

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Jornal Valor Econômico
Angelo Pavini,
De São Paulo
25/07/2008
Quem disse que não podia piorar? O Índice Bovespa caindo mais de 3%, de volta aos 57 mil pontos, os juros subindo além do esperado, o dólar em baixa, tudo isso mexe com os nervos do investidor.
A principal orientação para o aplicador é ter cautela. Quem já está com uma parcela grande dos recursos em bolsa deve evitar aumentá-la, apesar da tentação que as quedas de alguns papéis possa trazer. E reforçar a posição em DI. Já quem tem poucas ações, pode começar a olhar as oportunidades que surgiram, mas esperando retorno apenas no longo prazo, talvez para o fim do ano que vem. No dólar, a visão é de que o juro real no Brasil é tão alto que há pouca chance de a moeda americana disparar no médio prazo.
Marco Navarro, diretor de Investimentos do Unibanco Private Bank, está otimista com o mercado brasileiro, mas prevê três meses de muita turbulência à frente. Por isso, recomenda aproveitar a queda para comprar ações, mas apenas para os clientes muito arrojados. "Olhando o longo prazo, papéis como Petrobras e Vale já se tornam atrativas, depois de caírem 35% desde o pico deste ano", diz Navarro.
Já para Ricardo Braga, gerente-geral da Votorantim Corretora, o melhor agora é esperar o mercado americano parar de cair antes de aumentar a exposição em bolsa. "Hoje estamos recomendando não aumentar posições ou procurar papéis bons pagadores de dividendos de primeira linha", diz ele, citando o setor elétrico como exemplo. A percepção é de que o mundo vai crescer menos e isso deve reduzir os preços das commodities, afetando os papéis de primeira linha brasileiros. Com isso, não será surpresa se o Ibovespa recuar para 53 mil pontos no curto prazo. Mas, no médio prazo, a corretora segue otimista com a bolsa, considerando que os países emergentes vão continuar crescendo e consumindo mais commodities.
O mercado está se movendo hoje de olho no valor do dólar no exterior, que influencia os preços das commodities e do petróleo, e nos resultados das empresas americanas, diz Álvaro Bandeira, economista da corretora Ágora. Para Bandeira, há um aumento da aversão global ao risco e o investidor troca ações de emergentes por títulos americanos. E isso afasta os preços das ações de seus fundamentos. Ele acha que o pior já passou, mas a bolsa pode ficar nesses níveis até o último trimestre, quando podem surgir sinais de melhora do quadro econômico mundial. Bandeira considera que algumas boas empresas caíram muito, e quem tem sangue-frio e quer comprar boas empresas pode ter uma chance agora, de adquiri-las progressivamente. "Temos papéis como siderúrgicas, Petrobras, Vale e bancos, que sofreram muito", diz.
Mas se o investidor que está em bolsa está incomodado demais com as perdas recentes, o melhor é vender e aceitar o prejuízo, afirma Luiz Eduardo Santini Mello, diretor do Private Bank do Banco Fator. "É hora de o cliente ver se suas aplicações estão coerentes com seu perfil de risco", diz. Segundo ele, o cenário geral do mercado mudou e o Brasil, que vinha se beneficiando dos preços das commodities, agora sofre com a queda. "E quem estava apostando no curto prazo e foi pego pela queda, o melhor é realizar", diz ele, observando, porém, que se a aplicação for de longo prazo, faz sentido manter.
Mello acha que não é hora de entrar em bolsa, apesar de ver papéis com preços convidativos. "Não dá para saber se isso que estamos vivendo vai parar agora ou é início de processo de baixa maior", afirma o executivo.

Julho frustra aposta em retomada de ofertas na Bovespa

terça-feira, 22 de julho de 2008

(Jornal Valor Econômico)
Graziella Valenti e Ana Paula Ragazzi, de São Paulo
22/07/2008

Está mais difícil do que se imaginava. O apetite do investidor para ações em julho não apresentou a melhora esperada frente ao primeiro semestre do ano. Um prenúncio ruim para o restante de 2008. A única oferta no mês foi a megacaptação da Vale do Rio Doce, de R$ 18,5 bilhões, que, apesar do prestígio da companhia, enfrentou a exigência de elevados descontos pelos investidores. "Ficou claro que o mercado não está receptivo", afirmou André Luiz Fernandes, diretor de relações com investidores da Marítima Seguros, que resolveu postergar definitivamente a abertura de capital, para 2009 ou até 2010. A companhia ainda considerava listar as ações neste ano.


Em julho do ano passado, houve 19 emissões de ações na Bovespa, sendo 16 aberturas de capital. Juntas, essas operações somaram R$ 16 bilhões - ainda assim, volume menor do que o obtido pela Vale do Rio Doce sozinha. Neste ano, nem a correria para antecipar ofertas por conta das férias do Hemisfério Norte - que reduzem a demanda pelos papéis devido à diminuição do ritmo dos negócios - garantiu um aquecimento das captações. Em 2007, foi justamente esse fator, somado à sombra da crise financeira dos Estados Unidos, que estimulou as ofertas.


O deságio sofrido pelas ações da Vale ampliou ainda mais as incertezas quanto às chances de sucesso das empresas que ainda querem fazer oferta. Especialmente, das novatas. A mineradora pretendia em captar até US$ 15 bilhões, mas consegui US$ 11,5 bilhões.


Para as companhias já abertas que querem lançar mais papéis, é possível que haja algum espaço. "O apetite por ações está menor no mundo todo. Mas boas histórias ainda podem conseguir algum êxito", disse Aristides Jannini, diretor do WestLB. Para ele, o desconto da Vale do Rio Doce não deveria desanimar os interessados, pois têm relações com o cenário específico da empresa.


Até mesmo a potencial abertura de capital da Visanet deve ficar para 2009. Trata-se de uma das operações mais aguardadas do ano e com capacidade para se igualar ou ultrapassar os R$ 6,7 bilhões obtidos pela OGX, de Eike Batista.


Ana Carolina de Salles Freire, sócia da Tozzini Freire Advogados, não acredita que o mercado para as ofertas de ações melhore no segundo semestre. "Houve novos eventos, nos Estados Unidos, como as dificuldades enfrentadas por outras empresas de financiamento imobiliário e bancos, que reacenderam as incertezas", diz. "O momento de mercado está péssimo e a liquidez, baixa."


Atualmente, na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) existem cinco ofertas em análise, segundo Felipe Claret, superintendente de registro da autarquia. Tivit, Renova Energia e Infinity Bio Energy voltaram a buscar o registro no final do primeiro semestre, quando a aposta predominante era de alguma melhora no humor dos investidores na segunda metade do ano. Nenhuma delas desistiu oficialmente desse projeto até o momento. Rede e Light já são listadas e pretendem colocar mais papéis em circulação na bolsa. Caso não obtenham o registro até dia 29, essas empresas terão que atualizar o material da oferta (prospecto) com os resultados do segundo trimestre.



A falta de apetite do investidor e o cenário de incertezas já levaram 34 empresas a desistir de ofertar ações na praça paulista neste ano. Quatro outras empresas adiaram a análise da operação na CVM.


A Marítima Seguros, que tentou lançar suas ações no ano passado, não chegou a voltar à CVM para buscar um novo registro. Fernandes, diretor de relações com investidores contratado há quatro meses, contou que a empresa deve negociar um aporte de US$ 150 milhões a US$ 200 milhões com um fundo de participação - ou "private equity"-, que poderia ficar com até um terço do negócio. Caso não feche a transação, a empresa partirá para emissão de dívida no mercado internacional.


Segundo o executivo, a Marítima não desistiu de ir à Bovespa. Porém, não vê vantagem de enfrentar o elevado desconto exigido pelos investidores neste momento. Pensando em retomar a operação, a empresa havia até redesenhado a captação. No lugar de emitir apenas ordinárias no Novo Mercado, optaria pelo Nível 2 para poder listar também preferenciais e, com isso, elevar o volume da captação sem colocar em risco o controle do negócio. Operações de grande porte são imperativo colocado pelos estrangeiros - nada abaixo de US$ 500 milhões interessa.

Sobe ou cai neste pregão? Antes de apostar, atenção às pistas dadas pelo mercado

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Por: Roberto Altenhofen Pires Pereira
23/07/08 - 08h33
InfoMoney
SÃO PAULO - Os momentos que antecedem a abertura da Bolsa geralmente são os de maior ansiedade para os investidores. Com dinheiro em jogo, a expectativa com o primeiro passo de um índice ou uma ação pode determinar o humor e a estratégia a ser adotada ao longo de todo o dia.Mas longe de apostar em um movimento inicial de alta ou baixa, diversas pistas fornecidas pelo próprio mercado devem ser verificadas, justamente para minimizar as possibilidades de erro.A primeira questão é que estas "pistas" se dividem de acordo com seu grau de abrangência. De forma mais simplificada, as ocorrências que determinam os movimentos na Bolsa são ou restritas a um setor em específico ou econômicas, que afetam o índice como um todo.Sendo assim, o investidor deve, antes de tudo, saber qual o movimento que ele busca prever: de uma posição isolada ou da tendência do mercado no dia. Cada questão aponta para um lado.A tendência do índiceUma tendência de alta ou baixa de um índice acionário passa por diversas questões, mas nem por isso é difícil de ser prevista. Geralmente, o que determina o rumo da bolsa no dia são os pontos que mais preocupam os investidores naquele momento. A partir desta premissa, o exemplo atual parece ideal. Os dois fatores que mais preocupam os investidores no momento são: inflação e sistema financeiro internacional. Basta olhar as últimas sessões para reconhecer que se estas referências oferecem sinais mais preocupantes, o dia é de baixa; do contrário, positivo. Em alguns casos, estas referências se confrontam, aí vale a que oferece o indicador ou notícia mais surpreendente.Cuidado com os indicadoresOs 'termômetros' do mercado são fáceis de ser determinados, e os eventos previstos são fáceis de ser encontrados. Com exceção de alguma ocorrência extraordinária, os tópicos que fomentam estas questões estão programados nas agendas de indicadores do dia.Com setor imobiliário no centro das tensões e indicador do segmento aguardado para o meio do dia, o mínimo que se pode esperar é ansiedade e conseqüente indefinição das bolsas até sua divulgação. A Infomoney disponibiliza uma sessão com a agenda de indicadores do dia, bom roteiro do que está programado para o pregão.Índices futurosCom a programação do dia já em mãos, ou investidor pode prever uma reação prévia dos mercados a partir do movimento dos índices futuros. Pelo peso dos investidores estrangeiros sobre a bolsa brasileira, Wall Street pode ser considerado o principal termômetro do Índice Bovespa.Por esta questão, acompanhar a oscilação dos contratos futuros dos principais índices de ações norte-americanos negociados na Chicago Mercantile Exchange pela manhã muitas vezes indica o rumo da bolsa brasileira, assim como o movimento dos índices futuros domésticos negociados na BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros), cujas operações têm início antes da abertura da Bovespa.Qualquer mercado que já opera pode oferecer informação valiosa, como as bolsas asiáticas e européias. Pela diferença de horário, muitas vezes os fatores que influenciam estes mercados podem ser apenas ajuste ao dia anterior, mas também podem relacionar o impacto de alguma ocorrência abrangente, cujo reflexo se estenda à bolsa brasileira. É preciso avaliar o timing exato desta reação.Blue chips também essenciaisAlém da referência externa, o caso específico do Ibovespa ainda é marcado pela dependência da variação dos ativos de Vale e Petrobras. Juntas, estas ações respondem por mais de 30% do cálculo do índice.Os drivers envolvidos nestes dois papéis também podem, portanto, determinar a alta ou baixa do Ibovespa no dia. Uma dica: como as duas empresas são ligadas ao mercado de commodities, movimentos de alta ou baixa no preço das matérias-primas geralmente pressionam ou impulsionam estes papéis.Aposta em ação específicaMas quando a necessidade do investidor é "prever" o movimento de uma ação isolada, o caminho pode ser outro. Como alguns catalisadores abrangem a bolsa como um todo, outros afetam setores isolados.É aí que entra o noticiário corporativo. O problema é que as referências anunciadas, na maioria das vezes, não estão programadas antecipadamente, o que torna esta previsão mais difícil. Apesar de possíveis "surpresas" que podem chegar ao longo do dia, alguns pontos podem ser verificados. Atualmente, o momento é de entrada na famosa temporada de resultados. A divulgação dos balanços fornece ótima referência da situação financeira e desempenho operacional das companhias, e costuma mexer com as ações. Resultados e históricoAtenção com a temporada de resultados é essencial, uma vez que mesmo quando não se trata da empresa em questão, a divulgação dos dados de uma rival dá grande idéia do que estar por vir para a companhia focada. Em geral, afeta o setor como um todo, e pode afetar outros segmentos da bolsa, no caso de setores de alguma maneira relacionados, como exemplo, mineração e siderurgia.A partir daí, a Infomoney também disponibiliza uma sessão específica, com o cronograma dos resultados a serem apresentados.Se além de acompanhar o ativo o investidor visa firmar uma posição, de compra ou venda, outra referência importante é o histórico recente do papel em questão. Remete à máxima: comprar na alta e vender na baixa.

A mente do mercado

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Os gráficos estão certos. Um preço alcançado por uma ação ou pelo Ibovespa em determinado momento no passado influencia as cotações futuras. Tal essência, defendida pela análise técnica há pelo menos oito décadas, agora encontra abordagens científicas no campo das finanças comportamentais. No Brasil, o tema foi objeto de estudo do economista Bernardo Fonseca Nunes, em dissertação de mestrado apresentada no mês passado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS). A pesquisa, que pretendia evidenciar as vantagens da gestão ativa de portfólios levando-se em conta os fatores que direcionam o comportamento do investidor, será divulgada no encontro da International Association for Research in Economic Psychology (Iarep), em Roma, em setembro."Os padrões gráficos alteram nossa visão sobre comportamentos futuros, os argumentos dos grafistas são basicamente psicológicos", diz Nunes. No seu trabalho, o pesquisador replicou um experimento realizado em 2003 por Mussweiller e Schneller, com 34 estudantes de graduação de economia e negócios da Universidade de Würzburg, na Alemanha. No Brasil, o público alvo foi composto pela faixa etária da população que mais cresce no home broker, entre 15 e 30 anos, e que tem plena afinidade com todo o instrumental da análise técnica.Foram selecionados 47 alunos de graduação em economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e divididos em dois grupos. Na média, eles tinham uma vivência de 3,32 meses em acompanhamento do mercado de capitais, seja na prática profissional, seja como investidores. Cada um das equipes recebeu textos, dados de balanço e indicadores de duas companhias fictícias do setor de varejo, além de gráficos com diferentes padrões. A primeira turma recebeu relatórios das empresas 1 e 2, com gráficos ressaltando a alta (alta saliente) e a baixa (baixa saliente), respectivamente. A outra, recebeu os mesmos relatórios, mas com inversão dos padrões gráficos, de baixa saliente para a empresa 1 e de alta saliente para a 2.De posse desses dados, os participantes tiveram de estimar um preço alvo para as duas companhias analisadas para os próximos 12 meses, como se estivessem orientando um amigo. Todos os gráficos partiam de um valor de R$ 100,00 para cada ação, chegando a R$ 120,00 no tempo presente (outubro de 2007, no caso). No meio do caminho, os gráficos com altas salientes levaram os papéis para R$ 180,00, enquanto nos de baixas salientes, as cotações caíram a R$ 20,00 antes de dar a mesma rentabilidade final, de 20%.O resultado foi que o valor médio projetado para as ações que tiveram picos de valorização foi de R$ 132,27, 18% superior aos R$ 112,41 estimados para os papéis com gráficos de baixa relevante. Nunes ressalta que os testes estatísticos, que levam em conta o chamado desvio padrão da amostra (oscilação), confirmaram essa diferença.Embora os gráficos não sejam instrumentos utilizados para se estimar preços de ações, a memória coletiva está registrada neles na forma de suportes (pisos, que podem desencadear compras) e resistências (tetos, que podem chamar vendas), diz o analista técnico da Link Investimentos, Márcio Noronha. "Os gráficos mostram um consenso de valor de todos os participantes do mercado", afirma. "Quando uma ação atinge determinada resistência e o investidor sabe que no passado o preço não foi além daquele nível, ele vende o papel, a relação risco/recompensa é favorável."No trabalho de Nunes, foi a análise técnica o alvo da verificação, mas o pesquisador não deixou de considerar a análise fundamentalista, também do ponto de vista comportamental. Os profissionais que se debruçam sobre os balanços das empresas para descobrir qual o preço justo para uma ação pelo método de fluxo de caixa descontado tentam antecipar algo que, em tese, o mercado inteiro vai descobrir lá na frente. De nada adianta, porém, ele ter uma visão isolada sobre a atratividade daquele papel se os seus pares ou outros participantes não formarem um consenso a respeito. "A estratégia ótima para o gestor de investimento tem de contemplar os vieses comportamentais dos demais, ele tem de dar resposta a determinados movimentos de mercado", enfatiza o economista.Tanto como qualquer outro tipo de informação econômica que esteja estampada nas manchetes dos jornais, as análises podem influenciar os investidores, gerando comportamentos de manada, bolhas ou crashs, diz a psicanalista Vera Rita de Mello Ferreira, consultora na área psico-econômica e representante da Iarep no Brasil. "As análises podem ter influência no sentido da ancoragem", afirma. "As pessoas ficam presas a determinados valores numéricos e, mesmo que eles nunca tenham sido relevantes, acabam servindo de referência para a tomada de decisões."Nunes lembra o estrago recente que o rebaixamento dos preços da Laep e da Dufry Brasil, pelo UBS Pactual, teve sobre o desempenho das duas ações.A maior parte dos investidores tem a chamada visão pelo retrovisor - olhar o movimento do mercado no passado, imaginando que o mesmo irá acontecer no futuro -, que, em muitos momentos, se mostra como uma estratégia equivocada, lembra o estrategista do Santander, Marcelo Audi. "O consenso muitas vezes está errado e é nessas horas que surgem as boas oportunidades do mercado, pois é quando ocorrem as distorções de preços", afirma.No fim do ano passado, por exemplo, quando o Índice Bovespa estavam em 64 mil pontos e em franca valorização dia após dia, começaram a surgir alguns indícios de que haveria um desaquecimento da economia tanto local quanto mundial. No entanto, a maioria dos investidores e dos profissionais de mercado ignorou tais sinais e preferiu olhar para o retrovisor, encontrando nele um passado muito cor-de-rosa, com cinco anos consecutivos de alta da bolsa brasileira."Os poucos que perceberam que os fundamentos das economias estavam se deteriorando encontraram uma oportunidade de investimento: venderam as ações quando o Ibovespa estava em 64 mil pontos e se livraram de toda a queda que o índice sofreu desde então", argumenta Audi. Ele acredita que as pessoas olham o passado e têm dificuldade de perceber que a situação no futuro pode ser diferente por uma questão de inércia de comportamento.Se na hora de definir o cenário futuro estar contra o consenso pode ser uma oportunidade, no momento seguinte o consenso precisa convergir para a opinião do investidor. Só assim o que ele previu (uma queda ou uma alta do mercado) de fato irá se concretizar, completa Audi.

Pânico a uns, oportunidade a outros: reação à crise separa grande e pequeno investidor

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Por: Roberto Altenhofen Pires Pereira
11/07/08 - 10h00
InfoMoney
SÃO PAULO - O movimento recente dos mercados evidencia diferenças inegáveis entre o pequeno e o grande investidor. O ciclo negativo que tomou conta das bolsas a partir do começo de junho não deixou marcas apenas sobre os índices acionários, mas afetou profundamente o comportamento de todos os 'atores' de um mercado, sejam eles coadjuvantes ou protagonistas.Para facilitar o entendimento, basta analisar o volume de negócios na Bolsa de Valores de São Paulo. Do começo da derrocada até a breve retomada da quinta-feira (10), é evidente a redução na média diária movimentada pela bolsa paulista. Os investidores estrangeiros fogem para cobrir suas perdas lá fora, enquanto a amplitude dos riscos e o capital limitado interferem na atuação do pequeno investidor doméstico.Mas as maiores histórias de sucesso na bolsa vem exatamente destes momentos. É na capacidade de administração da crise que as fortunas começam e os famosos 'mega-investidores' se consagram. Lembra a máxima: comprar na baixa e vender na alta.Destas considerações pode-se afirmar que o período de pânico para alguns é de oportunidades para outros. Mas com certeza do lado do pânico que fica a grande maioria. Como o pequeno investidor, que manteve posições ao longo desta derrocada e viu suas aplicações "derreterem" na espera pela recuperação, vai se beneficiar da crise?Pânico para uns...Antes de tentar responder o que é praticamente irrespondível, vale destacar o movimento da quinta-feira. A sessão ilustra muito bem este retrato, e ainda levanta outras verdades. Um movimento de quedas consecutivas é o ponto ideal para se entrar no mercado, mas ainda assim fica muito difícil de avaliar a hora certa de montar posições, exatamente porque falamos de um momento de incertezas. Caiu bastante, mas pode cair ainda mais.Entre este impasse, o volume de negócios vai sendo penalizado, a liquidez diminuindo, a baixa ganhando força e o risco a cada dia fica maior. Warren Buffett ficou tão conhecido por isso. O mega-investidor norte-americano é especialista nos momentos de incerteza; aproveita como ninguém uma tendência de baixa dos mercados. ...oportunidade para outrosCom os índices de Wall Street beirando o "Bear Market", Buffett entrou em cena e mostrou que a despeito do pequeno investidor, os grandes da bolsa trabalham mais nos piores momentos. Em um mercado morno e novamente em tendência declinante, o mega-investidor ajudou, através de sua holding Berkshire Hathaway, na aquisição da petroquímica Rohm & Haas pela Dow Chemical, com ágio de mais de 70% sobre a cotação anterior das ações.A notícia deu fôlego extra e ajudou em grande parte o fechamento positivo dos índices acionários. Não que esta medida aponte que chegou o momento exato de 'entrar' no mercado, mas deixa claro que Buffett acredita na recuperação; e ele não costuma errar.Lembrando as lições básicasMas isto não soluciona o problema do pequeno investidor ou responde a questão deixada em aberto. Como garimpar oportunidades se seus recursos foram deteriorados pela derrocada recente?O que resta para o pequeno investidor são as lições deixadas pela bolsa neste episódio. Além da aposta certeira, apontada depois de muito embasamento teórico e busca de informações, a dinâmica dos mercados exige grande atenção com o "timing" das operações.A utilização da ferramenta de stop loss pode ser crucial neste momento, pois pode evitar todo o "derretimento" do capital e limitação dos recursos citados anteriormente. Além do stop, atenção às informações diárias e conhecimento do risco da renda variável são passos de iniciante muitas vezes esquecidos diante de uma oportunidade irrecusável, ou aparentemente irrecusável, oferecida pela Bolsa.

Enxergar os rumos do mercado está mais e mais difícil

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Por: Rodolfo Cirne Amstalden
11/07/08 -
14h00-InfoMoney

SÃO PAULO - A preocupação do analista é determinar, pelo método que preferir, para onde caminha o mercado. Ou melhor, com mais rigor, qual trajetória está associada à probabilidade dominante. Não é tarefa fácil. Embora as ferramentas de projeção tenham evoluído, a dinâmica real parece sempre à frente, com altos graus de alavancagem, ativos inovadores e bolhas estourando vez ou outra.A maioria se dá por vencida e escolhe a acomodação. Mais e mais de análise técnica, fundamentalista, interpretações sobre a política fiscal e monetária de cada país. Já Vineer Bhansali, diretor da Pimco, prefere investigar bagagens teóricas heterodoxas. Se o tradicional não funciona tão bem, vale apostar em uma mudança de paradigma.O cíclico e o secularSegundo Vineer, os investidores gostam de separar sua visão do mundo por duas classificações: o cíclico e o secular. O que é cíclico dura de meses a anos. O que é secular dura de anos a décadas. Sistematização tão simples quanto útil, mas que parece em xeque agora, quando a divisão ente o cíclico e o secular fica mais e mais difusa.Sintoma de uma transição de fases no mercado, em que o foco deve estar na identificação das tendências em formação e nas mudanças bruscas de preço, para baixo ou para cima. Conforme explica o diretor da Pimco, à medida que as séries cíclicas ganham amplitudes maiores, nascem as grandes tendências, indicando a busca por novos padrões de convergência."Dentro deste ambiente, fundos que se pautam em movimentos macro tendem a obter um desempenho melhor", avalia Vineer. E as flutuações de preço figuram como bom indicativo para o retorno dos ativos. Por outro lado, análises baseadas em valuation relativo e em fundamentos perdem sentido, já que os mercados mostram disposição para overshooting, de alta ou de baixa.Fora da caixaDada a confusão entre intervalos cíclicos e seculares, o tradicional desafio de estimar o mercado fica ainda mais complicado. Existem muitos métodos de projeção em economia e finanças, mas nenhum nos garante o futuro de maneira precisa, alerta Vineer. Assim, "é melhor pensar fora da caixa".Para o diretor da Pimco, a análise fundamentalista é um exemplo corrente de caixa. Pensar fora dela pode trazer retornos acima da média neste momento. Uma compensação por desprender-se dos hábitos.

Petrobras deve explorar reservas do pré-sal, defendem especialistas do setor

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Sabrina Craide Repórter da Agência Brasil


Brasília - A idéia de criar uma empresa estatal para administrar a exploração das novas reservas de petróleo encontradas no Brasil, apresentada pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, é vista com desconfiança por especialistas do setor. Eles defendem que, em vez de uma nova estrutura, o governo deveria deixar essa atividade sob responsabilidade da Petrobras.
“Você não pode pegar o sucesso de uma empresa como a Petrobras, obtido com garra, tecnologia, muita pesquisa e muito estudo e passar para outra empresa”, defende Giuseppe Bacoccoli, que é pesquisador do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Ele conta que estranhou a proposta do ministro, pois o país já tem uma estatal de petróleo com experiência e prestígio internacional. “O pré-sal é resultado de uma campanha de exploração da Petrobras, e ela merece e sabe lidar com isso”, diz Bacoccoli. O pesquisador também afirma que o governo já tributa pesadamente a produção de petróleo e gás do subsolo brasileiro.
Para defender a idéia de que a Petrobras deve ficar à frente da exploração das reservas da camada pré-sal, ele lembra as dificuldades técnicas da operação. “Não estamos falando de uma coisa trivial, estamos falando em perfurar poços de mais de mais de seis quilômetros de profundidade, em águas acima de 2 mil metros de profundidade, atravessar uma camada de sal com mais de 2 quilômetros de espessura. Não é qualquer um que faz isso”, afirma.
O diretor cientifico da Fundação Brasileira de Direito Econômico, Wladmir Coelho, diz que a Petrobras deve ser fortalecida para assumir o controle da exploração de petróleo no pré-sal. Ele lembra que o mercado é extremamente oligopolizado, pois são poucas empresas que têm condições de explorar o petróleo, e teme que a nova empresa já nasça enfraquecida, apenas com a função de administrar a exploração. “Essa estatal vai apenas administrar, quem vai tirar o lucro é a empresa que vai explorar o petróleo. Na prática, vamos entregar o petróleo às empresas transnacionais”, diz.
Para o diretor da Associação de Engenheiros da Petrobras, Ruy Gesteira, não há motivo para criar uma empresa, porque a Petrobras já faz esse trabalho com competência. “Não vejo porque criar uma nova companhia, acho mais acertado deixar com a Petrobras”, diz. Ele afirma também que a nova empresa teria que contratar novos profissionais, e existe uma grande deficiência de mão-de-obra especializada no mercado brasileiro. “Isso demanda muito tempo de treinamento e os funcionários da Petrobras já conhecem o processo”, afirma.
No máximo em 60 dias, Lobão deve apresentar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a proposta de criação da empresa estatal para administrar a exploração dos campos de petróleo da camada pré-sal. Segundo ele, a empresa cuidaria apenas da parte administrativa, valendo-se de outras exploradoras de petróleo como prestadoras de serviços.

Bolsa de Nova York entra em "bear market"

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Depois de passar os últimos pregões rondando o "bear market", o índice Dow Jones, o principal da Bolsa de Nova York, entrou oficialmente no território que marca queda de ao menos 20% desde o seu pico histórico. A Nasdaq, que reúne empresas de alta tecnologia, também já caiu mais de 20% desde o seu nível máximo.Com a queda de 1,46% de ontem, o índice formado pelas 30 principais companhias americanas já se desvalorizou em 20,82% desde 9 de outubro do ano passado, quando atingiu o seu nível máximo. O Dow Jones fechou ontem a 11.215,51 pontos (menor nível desde 14 agosto de 2006) e há analistas que estimam que ele terminará o ano em 10 mil pontos. No ano, ele acumula perdas de 15,45%.A Nasdaq caiu 2,32% ontem e já retrocedeu 21,25% desde o seu maior nível, em 31 de outubro do ano passado. O S&P 500 (mais amplo, reúne 500 companhias) também está próximo do "bear market": teve queda de 19,4% desde o seu pico, em 9 de outubro de 2007. Ontem, ele se desvalorizou em 1,82%.A queda de ontem foi atribuída principalmente ao relatório do Merrill Lynch que não descartou que a GM entre em concordata; à alta do preço do petróleo e às preocupações com o mercado de trabalho americano e com o possível corte de juros do Banco Central Europeu.O petróleo também contribuiu para o dia ruim do mercado, subindo quase 2% e se aproximando dos US$ 144.Hoje serão divulgados os dados de emprego nos EUA e a decisão sobre os juros nos 15 países que usam o euro como moeda. A expectativa é que a entidade eleve a taxa, aumentando o valor do euro ante o dólar.A previsão é a de que os dados de desemprego do mês passado sejam ruins -a consultoria ADP estima que o setor privado tenha cortado 79 mil postos de trabalho em junho. Nos cinco primeiros meses do ano, o mercado (incluindo o setor público) cortou 324 mil vagas e a taxa de desemprego chegou a 5,5% em maio, seu maior nível desde junho de 2004.JapãoO índice Nikkei 225, o principal da Bolsa de Tóquio, caiu ontem pelo décimo dia seguido, na sua maior seqüência de quedas em 43 anos. Nesse período, ele se desvalorizou em 8,1% -ontem, ele retrocedeu 1,3%.Apesar da desvalorização nos últimos dias, a Bolsa de Tóquio não está entre as que mais perderam neste ano. Ela acumula queda de cerca de 13%. Xangai já perdeu quase 50%, e Frankfurt e Paris, mais de 20%.

Ibov: O número da sorte (ou azar) é 58 mil


O mercado, que já tinha acendido a luz amarela com as quedas de junho, com a despencada de ontem acendeu a vermelha que, entre outras coisas, significa que os investidores estão muito preocupados com o que irá acontecer. O Índice Bovespa fechou ontem em queda de 3,61%, aos 61.106 pontos, o menor nível desde 31 de março, quando fechou aos 60.968 pontos. Na parte de fundamentos, já se sabe que a crise do setor imobiliário americano, a inflação crescente e o processo de aperto monetário no mundo contribuem para um momento complicado para o mercado. Já a análise técnica - que se baseia nos movimentos passados dos gráficos para definir o que pode acontecer no futuro - aponta que, nas últimas semanas, o Ibovespa rompeu vários suportes (pontos que no gráfico o índice tem mais dificuldade de cair e que poderia desencadear um movimento de compra). Pelo andar da carruagem, o Ibovespa aos 58 mil pontos é o nível mais importante e que irá definir o destino da bolsa. Se o índice chegar a essa pontuação e cair abaixo dela, isso deve significar o fim de um longo período de valorização da Bovespa, que começou em outubro de 2002, depois de o Ibovespa chegar ao fundo do poço, aos 8.224 pontos. Se isso acontecer, o mercado entrará num longo ciclo de vacas magras, que pode durar anos, assim como foi com a alta.No entanto, não é isso que os analistas técnicos ouvidos pelo Valor acreditam que possa ocorrer. Para o grafista da Itaú Corretora, Márcio Lacerda, o Ibovespa deve encostar nos 58 mil pontos e tomar impulso suficiente para buscar os 82 mil pontos, que seria o novo objetivo do índice, um recorde histórico e um nível de resistência - ponto que no gráfico o indicador tem mais dificuldade de subir e que poderia provocar um movimento mais forte de venda. "Quando o mercado entra em pânico, como está agora, é sinal de que há os últimos vendedores e que, portanto, as ações estão muito próximas de uma virada", diz Lacerda. Antes desses 58 mil decisivos e do retorno das valorizações, o Ibovespa ainda deve testar dois outros suportes importantes: um aos 61 mil pontos, o que está bastante próximo, e o outro aos 59.400 pontos.Segundo o analista técnico da Ativa Corretora, Rubens Góes, o Ibovespa abandonou um canal de alta de curto prazo em 20 de junho, quando fechou aos 64.600 pontos, abaixo do suporte de curto prazo que era aos 65.500 pontos. Neste momento, o próximo suporte de curto prazo é aos 60 mil pontos e, depois, aos 58 mil pontos. Se o índice furar esses dois níveis, deve ir buscar os 56 mil pontos, que também é o suporte da tendência de alta de longo prazo, que começou em outubro de 2002. "Se o Ibovespa terminar este mês abaixo dos 56 mil pontos, significa que a bolsa entrou num longo ciclo de baixa", diz Góes. No caso de esse cenário se concretizar, um dos primeiros suportes do indicador seria na casa dos 53 mil pontos, para o qual ele caminharia, portanto. Assim como o analista técnico da Itaú, Góes não acredita que a bolsa está prestes a mergulhar num extenso período de desvalorizações e seus argumentos moram no terreno fundamentalista, até para provar que esse tipo de profissional não se atém apenas ao mundo dos gráficos. "O Brasil continua crescendo e economias como a China ainda devem demandar muita commodity de países produtores, como é o nosso."O recorde de operações a termo em 23 de junho, de R$ 7,4 bilhões, enquanto o fluxo de saída dos estrangeiros na Bovespa chegou a R$ 7,4 bilhões no mês de junho já era um prenúncio de que as vendas ganhariam força, diz o analista técnico da Link Investimentos, Márcio Noronha, segundo apurou a repórter Adriana Cotias. No ano, o saldo está negativo em R$ 6,657 bilhões, "Eram as ações saindo da mão forte (estrangeiro) para a mão fraca, a pessoa física, 'comprada' (apostando na alta), e que estava operando de forma alavancada, acima do seu patrimônio ", afirma. Noronha também acredita que, após ter passado a barreira dos 61.200 pontos ontem, o Ibovespa vai buscar agora os 58 mil pontos. Ele lembra que em todos os ciclos de altas anteriores ocorridos de 1990 para cá, em nenhuma das quatro correções observadas os mercados deixaram de corrigir menos do que 57%. Se tiver comportamento similar e realmente estiver terminando o ciclo de alta atual - que foi de outubro de 2002, até o pico de 74 mil mil pós-grau de investimento -, o índice pode voltar à casa dos 30 mil pontos em dois ou três anos. "Pela análise técnica é uma possibilidade, mas bolsa não tem dono."A luz vermelha também se acendeu no mercado americano. O fechamento de ontem do Índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, representa uma queda de 20% ante sua máxima em outubro do ano passado. Historicamente, um mercado que cai 20% da sua máxima já é considerado "bear market" (mercado de baixa). No Brasil, o Ibovespa já caiu 17% desde a sua máxima de 73.920 pontos durante o pregão de 29 de maio. No entanto, se a bolsa hoje repetir o mesmo desempenho lastimável de ontem, o urso também sairá da hibernação no Brasil.