Investidor deve ter cautela e evitar riscos excessivos

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Jornal Valor Econômico
Angelo Pavini,
De São Paulo
25/07/2008
Quem disse que não podia piorar? O Índice Bovespa caindo mais de 3%, de volta aos 57 mil pontos, os juros subindo além do esperado, o dólar em baixa, tudo isso mexe com os nervos do investidor.
A principal orientação para o aplicador é ter cautela. Quem já está com uma parcela grande dos recursos em bolsa deve evitar aumentá-la, apesar da tentação que as quedas de alguns papéis possa trazer. E reforçar a posição em DI. Já quem tem poucas ações, pode começar a olhar as oportunidades que surgiram, mas esperando retorno apenas no longo prazo, talvez para o fim do ano que vem. No dólar, a visão é de que o juro real no Brasil é tão alto que há pouca chance de a moeda americana disparar no médio prazo.
Marco Navarro, diretor de Investimentos do Unibanco Private Bank, está otimista com o mercado brasileiro, mas prevê três meses de muita turbulência à frente. Por isso, recomenda aproveitar a queda para comprar ações, mas apenas para os clientes muito arrojados. "Olhando o longo prazo, papéis como Petrobras e Vale já se tornam atrativas, depois de caírem 35% desde o pico deste ano", diz Navarro.
Já para Ricardo Braga, gerente-geral da Votorantim Corretora, o melhor agora é esperar o mercado americano parar de cair antes de aumentar a exposição em bolsa. "Hoje estamos recomendando não aumentar posições ou procurar papéis bons pagadores de dividendos de primeira linha", diz ele, citando o setor elétrico como exemplo. A percepção é de que o mundo vai crescer menos e isso deve reduzir os preços das commodities, afetando os papéis de primeira linha brasileiros. Com isso, não será surpresa se o Ibovespa recuar para 53 mil pontos no curto prazo. Mas, no médio prazo, a corretora segue otimista com a bolsa, considerando que os países emergentes vão continuar crescendo e consumindo mais commodities.
O mercado está se movendo hoje de olho no valor do dólar no exterior, que influencia os preços das commodities e do petróleo, e nos resultados das empresas americanas, diz Álvaro Bandeira, economista da corretora Ágora. Para Bandeira, há um aumento da aversão global ao risco e o investidor troca ações de emergentes por títulos americanos. E isso afasta os preços das ações de seus fundamentos. Ele acha que o pior já passou, mas a bolsa pode ficar nesses níveis até o último trimestre, quando podem surgir sinais de melhora do quadro econômico mundial. Bandeira considera que algumas boas empresas caíram muito, e quem tem sangue-frio e quer comprar boas empresas pode ter uma chance agora, de adquiri-las progressivamente. "Temos papéis como siderúrgicas, Petrobras, Vale e bancos, que sofreram muito", diz.
Mas se o investidor que está em bolsa está incomodado demais com as perdas recentes, o melhor é vender e aceitar o prejuízo, afirma Luiz Eduardo Santini Mello, diretor do Private Bank do Banco Fator. "É hora de o cliente ver se suas aplicações estão coerentes com seu perfil de risco", diz. Segundo ele, o cenário geral do mercado mudou e o Brasil, que vinha se beneficiando dos preços das commodities, agora sofre com a queda. "E quem estava apostando no curto prazo e foi pego pela queda, o melhor é realizar", diz ele, observando, porém, que se a aplicação for de longo prazo, faz sentido manter.
Mello acha que não é hora de entrar em bolsa, apesar de ver papéis com preços convidativos. "Não dá para saber se isso que estamos vivendo vai parar agora ou é início de processo de baixa maior", afirma o executivo.