Julho frustra aposta em retomada de ofertas na Bovespa

terça-feira, 22 de julho de 2008

(Jornal Valor Econômico)
Graziella Valenti e Ana Paula Ragazzi, de São Paulo
22/07/2008

Está mais difícil do que se imaginava. O apetite do investidor para ações em julho não apresentou a melhora esperada frente ao primeiro semestre do ano. Um prenúncio ruim para o restante de 2008. A única oferta no mês foi a megacaptação da Vale do Rio Doce, de R$ 18,5 bilhões, que, apesar do prestígio da companhia, enfrentou a exigência de elevados descontos pelos investidores. "Ficou claro que o mercado não está receptivo", afirmou André Luiz Fernandes, diretor de relações com investidores da Marítima Seguros, que resolveu postergar definitivamente a abertura de capital, para 2009 ou até 2010. A companhia ainda considerava listar as ações neste ano.


Em julho do ano passado, houve 19 emissões de ações na Bovespa, sendo 16 aberturas de capital. Juntas, essas operações somaram R$ 16 bilhões - ainda assim, volume menor do que o obtido pela Vale do Rio Doce sozinha. Neste ano, nem a correria para antecipar ofertas por conta das férias do Hemisfério Norte - que reduzem a demanda pelos papéis devido à diminuição do ritmo dos negócios - garantiu um aquecimento das captações. Em 2007, foi justamente esse fator, somado à sombra da crise financeira dos Estados Unidos, que estimulou as ofertas.


O deságio sofrido pelas ações da Vale ampliou ainda mais as incertezas quanto às chances de sucesso das empresas que ainda querem fazer oferta. Especialmente, das novatas. A mineradora pretendia em captar até US$ 15 bilhões, mas consegui US$ 11,5 bilhões.


Para as companhias já abertas que querem lançar mais papéis, é possível que haja algum espaço. "O apetite por ações está menor no mundo todo. Mas boas histórias ainda podem conseguir algum êxito", disse Aristides Jannini, diretor do WestLB. Para ele, o desconto da Vale do Rio Doce não deveria desanimar os interessados, pois têm relações com o cenário específico da empresa.


Até mesmo a potencial abertura de capital da Visanet deve ficar para 2009. Trata-se de uma das operações mais aguardadas do ano e com capacidade para se igualar ou ultrapassar os R$ 6,7 bilhões obtidos pela OGX, de Eike Batista.


Ana Carolina de Salles Freire, sócia da Tozzini Freire Advogados, não acredita que o mercado para as ofertas de ações melhore no segundo semestre. "Houve novos eventos, nos Estados Unidos, como as dificuldades enfrentadas por outras empresas de financiamento imobiliário e bancos, que reacenderam as incertezas", diz. "O momento de mercado está péssimo e a liquidez, baixa."


Atualmente, na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) existem cinco ofertas em análise, segundo Felipe Claret, superintendente de registro da autarquia. Tivit, Renova Energia e Infinity Bio Energy voltaram a buscar o registro no final do primeiro semestre, quando a aposta predominante era de alguma melhora no humor dos investidores na segunda metade do ano. Nenhuma delas desistiu oficialmente desse projeto até o momento. Rede e Light já são listadas e pretendem colocar mais papéis em circulação na bolsa. Caso não obtenham o registro até dia 29, essas empresas terão que atualizar o material da oferta (prospecto) com os resultados do segundo trimestre.



A falta de apetite do investidor e o cenário de incertezas já levaram 34 empresas a desistir de ofertar ações na praça paulista neste ano. Quatro outras empresas adiaram a análise da operação na CVM.


A Marítima Seguros, que tentou lançar suas ações no ano passado, não chegou a voltar à CVM para buscar um novo registro. Fernandes, diretor de relações com investidores contratado há quatro meses, contou que a empresa deve negociar um aporte de US$ 150 milhões a US$ 200 milhões com um fundo de participação - ou "private equity"-, que poderia ficar com até um terço do negócio. Caso não feche a transação, a empresa partirá para emissão de dívida no mercado internacional.


Segundo o executivo, a Marítima não desistiu de ir à Bovespa. Porém, não vê vantagem de enfrentar o elevado desconto exigido pelos investidores neste momento. Pensando em retomar a operação, a empresa havia até redesenhado a captação. No lugar de emitir apenas ordinárias no Novo Mercado, optaria pelo Nível 2 para poder listar também preferenciais e, com isso, elevar o volume da captação sem colocar em risco o controle do negócio. Operações de grande porte são imperativo colocado pelos estrangeiros - nada abaixo de US$ 500 milhões interessa.