O perigo da recuperação dos lucros

sábado, 9 de agosto de 2008

As empresas brasileiras, inclusive instituições financeiras, apresentaram, no primeiro semestre de 2008, uma significativa redução de margens de lucros - particularmente grave para um grande número delas quando calculada em valor real -, apesar do aumento de faturamento.Trata-se de uma conseqüência, basicamente, do forte aumento dos custos de produção, especialmente das empresas que dependem muito de commodities, cujos preços, no primeiro semestre, tiveram forte elevação.Em boa parte dos casos houve erro de cálculo nas estimativas de evolução dos custos, de modo que, numa fase de redução dos preços das commodities, as empresas podem sentir-se tentadas a recuperar as margens de lucros, especialmente se se deparam com uma demanda doméstica vigorosa, seja por efeito do aumento de remuneração do funcionalismo público, seja pela atualização generosa do Bolsa-Família, seja pela continuidade da forte expansão do crédito.Essa expansão, que os próprios bancos avaliam em 25% neste ano, é a resposta que estão dando à (pequena) redução dos seus lucros, além de cogitarem aumentar as tarifas dos seus serviços.No caso das empresas de outros setores, elas não levarão em conta a provável redução dos custos de produção, preferindo reparar o erro de cálculo do primeiro semestre aumentando suas margens, ainda mais que grande parte dessas empresas investiu no aumento da capacidade de produção ou da produtividade, devendo, portanto, arcar com o reembolso dos empréstimos contratados.Assim, estaremos diante de um novo fator de inflação, que poderá neutralizar a queda, que parece se consolidar, dos custos de produção. Essa realimentação inflacionária poderá encontrar mais impulso na desvalorização do real, que eleva os custos da produção.Diante desses fatores que podem atrasar o atual processo de redução da taxa de inflação, parece-nos que seria adequado tomar algumas medidas - além de dar continuidade, até o final do ano, à elevação gradual da taxa Selic. Uma delas seria um maior esforço para elevar a competição entre as instituições financeiras, de modo a evitar que a expansão do crédito se traduza em aumento dos custos. Outra medida seria a redução da demanda governamental, que contribuiria para abortar as tentativas de aumento dos preços pelas empresas. E, por fim, uma redução da carga tributária dessas empresas.