Eletropaulo cai 5% após bloqueio de dividendos

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Jornal Valor Econômico - 26 de agosto de 2008
As ações da Eletropaulo já caíram quase 16% neste mês e só ontem a queda foi de cerca de 5%. O tombo veio depois que a empresa anunciou que sofreu o bloqueio de suas contas e desta forma não poderá pagar os dividendos anunciados para amanhã, de R$ 359 milhões. O bloqueio foi pedido pela Fazenda Nacional, que cobra uma dívida de R$ 600 milhões, que a Eletropaulo acredita não ter com o Fisco. Nesta semana, as empresas do setor começam a distribuir mais de R$ 2 bilhões em dividendos anunciados, mas o setor elétrico como um todo sofreu ontem na Bolsa de Valores de São Paulo. O índice do setor caiu 1,35%. Com o bloqueio dos dividendos da Eletropaulo, também a AES Elpa não poderá distribuir R$ 105 milhões que viriam da Eletropaulo. A empresa realizou ontem uma teleconferência com os analistas e explicou que o bloqueio se refere a uma discussão sobre Cofins que começou em 1992 e nenhuma linha da causa está explicitada em balanço. Isso porque a empresa entende que trata-se de um caso de perda remota e as regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) permitem que, nesse caso, a empresa não faça nenhuma menção. A causa específica começou em 1992 quando todo o setor entendia que não deveria pagar Cofins e, por isso, ingressou na Justiça. Mas, em 1999, o Supremo Tribunal Federal (STF) disse que a cobrança era constitucional. Uma lei da época isentava os contribuintes de pagamento de juros e multa quando o Supremo declarasse algum tema constitucional. Naquele mesmo ano, o governo editou uma medida provisória, de número 1.858, dizendo que esse benefício valia para os casos em que a declaração de constitucionalidade tivesse sido proferida pelo Supremo Tribunal Federal, em recurso extraordinário, para aqueles que tivessem uma decisão judicial em qualquer jurisdição ou aqueles ajuizados até 31 de dezembro de 1998. O vice-presidente de assuntos legais da Eletropaulo, Pedro Bueno, explica que, quando a empresa foi pagar o que devia de Cofins sem multas e juros, a Receita Federal não aceitou porque entendia, segundo Bueno, que a empresa não atendia aos requisitos estabelecidos na medida provisória. Começaram, então, três execuções de dívida e a discussão na Justiça. O Tribunal Regional Federal (TRF) chegou a extinguir o processo, mas em junho deste ano o Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendeu que não era o caso de extinguir o processo, que ele deveria ser julgado, mas que a execução deveria permanecer suspensa. Mas em função dessa decisão do STJ, a Fazenda Nacional conseguiu na sexta-feira que a primeira instância bloqueasse os dividendos da empresa. Desde o ano passado, a procuradoria geral da Fazenda Nacional (PGFN) começou a adotar a estratégia de bloquear dividendos de empresas que estão na sua lista de grandes devedoras. O primeiro caso foi o da CSN, seguido depois pela Vale. O diretor jurídico da Eletropaulo informou que a empresa já recorreu. A PGFN não quis falar sobre o assunto.

Pequeno investidor reduz apetite após baixa na Bolsa

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

O fisioterapeuta Thiago Lara, 27, vendeu no início do ano um apartamento de R$ 75 mil que rendia um aluguel de R$ 400 mensais -menos do que a poupança- para aplicar na Bovespa. Cristiano Aparecido Leite, 25, estudante, aplica regularmente em ações com o objetivo de comprar um apartamento. E o administrador José Martins, 38, chegou a perder quase um "pequeno apartamento" após a crise na Bolsa neste ano.Em comum, os três viveram as poucas altas e as muitas baixas do mercado neste ano. Ganharam dinheiro em maio -época do grau de investimento- e perderam a partir de junho. O saldo final foram prejuízos e a primeira experiência de mercado em meio a uma crise.
Números da Bovespa mostram que a turbulência abateu o pequeno investidor, que reduziu seu apetite no mercado. Desde maio, o volume negociado caiu 36% -passou de uma média diária de R$ 1,839 bilhão para R$ 1,174 bilhão em julho.Decepcionados com a Bolsa? Nem tanto. Todos eles reduziram o entusiasmo com as ações e afirmam que teriam adorado ter saído mais cedo da Bolsa. Mesmo assim, foram fazer cursos e estudar técnicas para recuperar as perdas e conseguir, a longo prazo, um retorno acima do de outras aplicações."Quando sobe, tudo bem. Mas, quando dá aquela despencada, a gente fica de cabelo em pé. Fica pensando: se eu tivesse saído nesse momento e voltado depois... Olhando o passado, é fácil falar", disse José Martins.
O fisioterapeuta Thiago Lara estreou em fevereiro na Bolsa, antes do pico de alta do mercado. Vendeu um apartamento de R$ 75 mil em Mogi das Cruzes, juntou outras economias e decidiu colocar R$ 30 mil em ações e R$ 50 mil em CDB. Conforme a Bolsa subia, foi aumentando sua exposição. Na alta, chegou a ganhar mais de 20% na Bolsa e somar quase R$ 100 mil. Agora, ainda tem R$ 85 mil. "Ganhei e fiquei superempolgado. Agora que conheço um pouco melhor o mercado, vi que dei muita sorte. O dinheiro que usei não é do que necessito. A minha estratégia é deixar a longo prazo. Ainda é melhor do que o aluguel. Tem mês que ganha e mês que perde."Já Martins afirma que aprendeu que deve determinar o quanto suporta perder -e também ganhar. "A gente acaba postergando a saída para esperar que melhore. A falta de disciplina para sair faz perder mais. Tem que definir um limite de perdas e de ganho. Se atingiu um ponto que é bom, vende e sai fora. Depois começa de novo, em busca de oportunidade."

Mantega deve publicar portaria que acaba com superávit primário

domingo, 24 de agosto de 2008

da Folha Online - 24 de agosto de 2008
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, deve publicar na terça-feira uma portaria que, na prática, acaba com o conceito de superávit primário, usado para contabilizar as receitas ante as despesas gerais, mas sem incluir o pagamento dos juros da dívida pública, informa o colunista Guilherme Barros na Folha deste sábado.
Entenda o que é o superávit primário e seu impacto sobre a dívida
A portaria irá determinar que a contabilidade pública passe a adotar as normas contábeis consagradas internacionalmente. Com essas novas normas contábeis, passam a valer os conceitos de resultado fiscal, hoje chamado de nominal, a fim de dar mais transparência à contabilidade pública.
O conceito de superávit primário foi introduzido no Brasil em 1991, ainda no governo Collor, durante as negociações de acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), para calcular o montante de recursos que o governo poderia empregar para o pagamento dos juros da dívida.
No início deste mês, o ministro disse não descartar um aumento da meta de superávit primário (economia feita para pagar os juros da dívida) como forma de combater a inflação. "Se necessário for, nós usaremos a política fiscal", disse ele, durante participação em seminário na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.
Ele disse que considera "menos danoso" para o crescimento da economia aumentar o superávit primário do que aumentar a taxa básica de juros --na última reunião, o Banco Central elevou a Selic para 13%. "A elevação da taxa de juros é necessária, mas o nível me preocupa", afirmou.
Leia a reportagem completa na Folha deste sábado, que já está nas bancas.

Bovespa quebra sequência de ganhos e fecha com baixa de 0,15%, em dia morno

sábado, 23 de agosto de 2008

da Folha Online

Em um dia bastante fraco de negócios, a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) não conseguiu sustentar o ritmo de recuperação dos últimos três pregões e encerrou o expediente de sexta-feira em terreno negativo. Algumas das principais ações negociadas da Bolsa desvalorizaram, numa rodada com ajustes agudos das commodities --somente o barril de petróleo caiu mais de 5%.
Analistas também chamaram a atenção para algum movimento de realização de lucros (venda de papéis que valorizaram no curto prazo), num momento de bastante instabilidade dos mercados.
O Ibovespa, termômetro dos negócios da Bolsa paulista, retrocedeu 0,15% e alcança os 55.850 pontos. O giro financeiro foi de R$ 3,37 bilhões, bem abaixo da média diária do mês (R$ 5,26 bilhões, até o dia 21).
O dólar comercial foi cotado a R$ 1,628 na venda, com avanço de 1,05%. A taxa de risco-país marca 238 pontos, em baixa de 0,41%.
Em Nova York (Nymex), a cotação do barril de petróleo teve um forte recuo (5,44%) e atingiu a casa dos US$ 114,59, nesta sexta-feira, oscilando entre a máxima de US$ 121,86 e a mínima de US$ 114,18.
As ações do setor financeiro contribuíram para que as Bolsas européias concluíssem os negócios com valorização. Em Londres, o índice FTSE subiu 2,52%, enquanto Dax alemão ascendeu 1,69%. Em Nova York, a Bolsa local valorizou 1,73% (índice Dow Jones). Nesses mercados, os investidores ficaram animados com a possibilidade que o banco americano de investimentos Lehman Brothers, muito afetado pela crise americana, receba aportes de capital de uma instituição financeira asiática.
Fed
Hoje, o presidente do Federal Reserve (banco central americano), Ben Bernanke, disse estar confiante no recuo da inflação devido à queda nos preços das commodities. Ele, no entanto, mostrou preocupação ainda com os desdobramentos da crise dos "subprimes" sobre o setor financeiro e a economia real. Analistas consideram o discurso bastante duro, mas de efeito restrito, já que não trouxe novidades.
Na interpretação da área econômica do banco Merrill Lynch, as declarações foram uma clara sinalização de que as taxas de juros americanas --hoje em 2% ao ano-- não devem subir "por um longo, longo tempo". "Ele admite que os cortes de 325 pontos [percentuais] das taxas [básicas de juros] contrabalançaram apenas parcialmente o enfraquecimento da economia por conta do desaquecimento com a crise de crédito [subprimes]", avalia a equipe de economistas do banco, em relatório sobre o discurso.
No front doméstico, a inflação medida pelo IPCA-15 teve variação de 0,35% em agosto ante 0,63% em julho. As projeções do mercado financeiro apontavam entre 0,38% e 0,40%. O IPCA-15 é considerado como uma prévia do índice oficial de preços, utilizado para o regime de metas de inflação.

VisaNet

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Valor Econômico- 22 de agosto de 2008

A Visanet, empresa que faz o credenciamento de estabelecimentos comerciais para a bandeira Visa, dará na próxima segunda-feira, dia 25, o primeiro passo para a listagem de ações na Bovespa. Nesse dia, os acionistas da empresa se reunirão em assembléia para autorizar a apresentação de pedido de registro de companhia aberta à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A operação da empresa é aguardada pelo mercado desde que a concorrente Redecard lançou ações, há um ano. Segundo o diretor executivo de finanças e administração da Visanet Brasil, Vitor Fabiano, a convocação foi efetuada para que sejam criadas condições prévias e para que a empresa esteja pronta para a oferta inicial de ações, caso venha a ser definida pelos acionistas. Uma vez que o pedido da Visanet ingresse na CVM, a operação deve permanecer em análise por pelo menos um mês. O mercado não sabe estimar se a oferta será realizada neste ano, pois dependerá da janela de oportunidade.
Apesar da instabilidade dos mercados, é possível dizer que a distribuição tem sinalização muito positiva. Em março passado, período nebuloso para o mercado de capitais, diante da crise de crédito internacional, a Visa fez a maior operação inicial de venda de ações nos Estados Unidos, com volume recorde de US$ 17,86 bilhões. Os analistas da Itaú Corretora comentaram que a operação de Visanet pode ser um fator a impulsionar as ações do Bradesco e do Banco do Brasil, que possuem fatias de 40% e 32%, respectivamente, na empresa. Os papéis devem se beneficiar tanto do valor que o mercado atribuir à Visanet, quanto da venda de ações em uma eventual oferta secundária, em que os recursos vão para os acionistas. O Itaú assumiu múltiplos para a Visanet semelhantes aos de Redecard, com preço/lucro (P/L) estimado para 2008 de 21,5 vezes e crescimento de receita de 21%. A corretora calculou valor de mercado de R$ 23 bilhões - o da Redecard é de R$ 20 bilhões. Na assembléia, os acionistas também aprovarão a conversão das ações ON, hoje divididas em A e B, em uma classe única de ordinárias.

Marcas que seduzem

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Valor Econômico- 19/08/2008
Num momento em que o investidor estrangeiro bate em retirada da bolsa brasileira, entender o que o investidor pessoa física leva em conta na hora de escolher uma ação torna-se extremamente importante. Segundo dados da Bovespa, enquanto os estrangeiros tiraram R$ 16,033 bilhões no ano até o dia 13, os individuais compraram R$ 7,870 bilhões. Mas qual o peso de uma marca na seleção de um papel? A fim de responder a esta pergunta, a BrandAnalytics elaborou uma pesquisa com cem investidores das classes A e B. Cada um precisava ter pelo menos R$ 5 mil aplicados diretamente em ações. A idéia era compreender a força do nome da empresa na decisão de investimento. Os resultados mostram a relevância de uma marca forte. Quando perguntado sobre quais as empresas com papéis na bolsa o investidor já tinha ouvido falar, as ações de Petrobras, Vale e Bradesco apareceram em 100% das respostas. Em seguida ficaram Itaú, com 99%, e Gerdau, com 95%. Os papéis do Unibanco, Banco do Brasil (BB) e Perdigão apareceram com 93%. "Isso mostra que todo mundo sabe quem são essas empresas, mas daí a colocar dinheiro nelas é uma outra história", diz Eduardo Tomiya, diretor da BrandAnalytics e coordenador do estudo ao lado do consultor Roberto de Napoli.
Em seguida, os entrevistados responderam se já investiram em algum desses papéis. Do total, 81% já foram acionistas da Petrobras e 78% da Vale. "Isso é um indício de que essas empresas têm algum valor a mais para os investidores", avalia Tomiya. Atrás das duas vedetes ficou o Bradesco, que teve 44% das respostas, enquanto o Itaú, 37%. Gerdau apareceu com 31%. Interessante notar que, neste quesito, a tradicional Usiminas, juntamente com a mais novata Natura, ficou com 26%. Já o BB teve 19%. "Isso chama a atenção, pois o BB é o maior banco do país e a percepção dele pode ser considerada pequena vis-à-vis o seu lucro", diz. Mas, será que os investidores que já aplicaram em ações dessas companhias, as mantêm na carteira? Mais uma vez, as vedetes estão entre as preferidas - 69% dos entrevistados investem em Petrobras e 67% têm Vale na carteira. Do total, 29% contam com papéis do Bradesco, enquanto 21% investem nas ações do Itaú. Gerdau teve 17% e Usiminas, 13%. O BB ficou com 10% e a Natura, com 5%. Na visão de Tomiya, para a companhia, conhecer a forma como o investidor decide por um ou outro investimento pode ser um grande aliado na comunicação corporativa. "É importante para a empresa saber como ela é percebida e quão importante é a transparência na decisão de investimento", diz.
Ao cruzar os três resultados - se o investidor conhece a ação, já investiu e ainda investe - , foi possível chegar ao que a consultoria chama de força do papel. Aqui, Petrobras, com 56%, e Vale, com 52%, têm uma força quase quatro vezes maior do que o terceiro colocado, o Bradesco, com 13%. Em quarto lugar ficou a Usiminas, com 9%, acompanhada pelo Itaú, com 8%. Banco do Brasil teve 6% e a Gerdau, 5%. A preferência pelas duas maiores empresas do Índice Bovespa confirma a procura pelos fundos compostos somente por Petrobras e Vale, que lideram a captação no ano entre os fundos de ações. Mas o que aconteceu com marcas conhecidas como AmBev, Pão de Açúcar ou mesmo Sadia? "A pesquisa deve servir como um alerta para os executivos de Relações com Investidores para saber o quão efetivo eles estão sendo na comunicação da empresa", afirma Tomiya. "É claro que Petrobras e Vale são grandes corporações, mas há outros critérios que vêm sendo percebidos pelo investidor." Os dados mostram que a transparência da empresa é o segundo critério mais importante para o investidor na escolha de um papel, com 39%, atrás apenas da solidez e lucratividade. "Isso indica uma tendência dos investidores de se preocupar mais com a perenidade dos investimentos, e não só com o lucro", diz. Interessante notar que a transparência vem antes, inclusive, dos dividendos ou da recomendação de um profissional.
Ao avaliar os diferenciais percebidos nas empresas citadas - solidez, transparência, capital humano e marca -, percebe-se que Vale e Petrobras são as com maiores diferenciais. Em seguida ficaram o Bradesco, Itaú e Gerdau. BB e Usiminas empataram. Saber como o diferencial da empresa é percebida e a importância de sua marca é relevante para a companhia tentar reduzir a diferença entre seu valor real e o de mercado, observa Tomiya. Muitas empresas que vieram a mercado recentemente não foram eficazes o suficiente em sua comunicação corporativa e algumas delas sofreram mais do que a média nesses últimos tempos por conta disso.

Petrobrás avalia o pré-sal

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Folha de S. Paulo- 19/08/2008

O diretor de Exploração e Produção da Petrobrás, Guilherme Estrella, confirmou ontem que há "uma primeira impressão" de que há "áreas a serem unitizadas no pré-sal". Isso significa que anúncios de descobertas em áreas consideradas distintas podem representar, na verdade, um mesmo campo petrolífero. O executivo destacou, no entanto, que não há nada garantido, porque só a partir de agora serão iniciadas as perfurações que vão permitir determinar a extensão dos reservatórios para além dos limites dos blocos."Estamos preparando uma programação de perfurações que permitirá uma avaliação mais completa dos dados técnicos sobre esses blocos. Por enquanto, o que existe é muita especulação", disse Estrella, ao chegar, ontem à noite, à Assembléia Legislativa do Rio, onde foi homenageado com a Medalha Tiradentes. Ele disse que a área de Tupi é a única com avaliação mais adiantada e a idéia é "acelerar esse conhecimento" em 2009, quando será iniciado o Teste de Longa Duração, que permitirá retirar 20 mil barris de óleo por dia de Tupi.
"A idéia é jogar as sondas preferencialmente no pré-sal. Mas é claro que temos ainda uma carteira, que vai do Oiapoque ao Chuí, e que não pode ser desconsiderada." Ele informou que, além de uma sonda que será deslocada do Golfo do México para o Brasil, há dois equipamentos desse tipo sendo construídos na Coréia. Eles serão trazidos ao Brasil em vez de serem levadas a empreendimentos da Petrobrás no exterior, como inicialmente projetado. O diretor disse que as descobertas na Bacia de Santos exigem uma concepção de equipamentos completamente diferente dos utilizados no maior pólo produtor de petróleo do Brasil, na Bacia de Campos.
POLITIZAÇÃOO senador Delcídio do Amaral (PT-MS) reclamou da "politização" dos debates sobre o novo modelo para o setor de petróleo, iniciados com a descoberta do pré-sal. Favorável a mudar a lei, ele disse que o governo precisa discutir o tema "do ponto de vista técnico e com tranqüilidade". "Precisamos estudar para ver o que é mais importante para o País. Pode-se até concluir que uma estatal é melhor, mas precisamos de elementos para tomar a decisão", afirmou, após participar, ontem, de fórum sobre a Lei do Gás, no Rio.

América Latina tem saques de US$ 3,5 bi

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Fonte: Valor Econômico - 18/8/2008
A grande dependência de commodities tem se mostrado tóxica para os ativos de países da América Latina. Segundo a consultoria EPFR Global, os fundos de ações internacionais dedicados a investir na região já perderam US$ 3,45 bilhões nas últimas 10 semanas, com o Brasil liderando o volume de saques. Reforçando essa constatação, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), principal centro de liquidez da região, apresentava saldo estrangeiro negativo de R$ 1,68 bilhão até o dia 12 de agosto. Desde junho, os estrangeiros já tiraram mais de R$ 16,7 bilhões da bolsa brasileira. Com o preço de algumas matérias-primas oscilando em mínimas não registradas em seis meses, e petróleo na faixa de US$ 110, a maioria dos emergentes perde atratividade, segundo a consultoria. A Rússia voltou a ser alvo de saques e, pela primeira vez no ano, os Emergentes do Oriente Médio e África registraram saída de recursos. Contrastando com tal cenário, o grupo Ásia (exceto Japão) recebeu dinheiro novo nos subgrupos China, Índia e Coréia do Sul.
A maior preocupação com o ritmo de crescimento da economia mundial, depois que o Produto Interno Bruto (PIB) da Zona Euro ficou negativo pela primeira vez em 10 anos, além de novas perdas nos balanços de instituições financeiras, fizeram com que os investidores ficassem mais defensivos. Não é de se admirar que os fundos com maior captação foram os de renda fixa de curto prazo (money market) e fundos de ações e bônus dos Estados Unidos. Segundo a EPFR, os fundos de money market receberam US$ 5,9 bilhões na segunda semana de agosto, elevando o valor captado no ano para cima da marca de US$ 150 bilhões. Na Europa, a preocupação com a economia tomou o lugar da atenção com a inflação, mas isso não se traduziu em volumosos saques dos fundos de ações. Durante a semana encerrada dia 13 de maio, a categoria perdeu apenas um décimo da média de US$ 1,75 bilhão que vinha sendo mantida há 15 semanas.
No Japão, a EPFR detectou uma posição de "esperar para ver", com os investidores apostando que a maior inflação levará a uma migração de recursos de investimentos de perfil mais conservador para a bolsa. Mesmo assim, a categoria registrou saques pela terceira semana seguida. Nos EUA, os fundos de ações seguem com captação, com destaque, mais uma vez, para as ações de grandes empresas (large caps) e os Exchange-Traded Funds (ETFs), que acompanham índices de mercado. Na avaliação setorial, os fundos de Energia e Commodities também sentiram essa percepção negativa quanto ao preço das matérias-primas e perderam mais de US$ 1 bilhão na semana. Mudança de percepção também para o setor financeiro. Depois de semanas captando, com os investidores comprando a idéia de "barganha" no setor bancário americano, os fundos voltados ao setor perderam US$ 1,7 bilhão. O bom humor do investidor não resistiu a uma nova rodada de baixas contábeis e rebaixamentos de classificação de risco.

BM&F Bovespa divulga 1º balanço

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

A BM&F Bovespa divulga hoje seu primeiro balanço após a união oficial das bolsas brasileiras. Os analistas esperam por resultados modestos, uma vez que os números de queda nos volumes de negócios e saída de investidores estrangeiros são divulgados mensalmente para o mercado. A desaceleração das transações em bolsas, por conta do aumento da aversão ao risco, diante da crise de crédito global, afetou todas as companhias do setor pelo mundo este ano. Apenas em 2008, o valor de mercado da BM&F Bovespa caiu pela metade, para US$ 13 bilhões, comportamento que acompanhou tendência global. Prova disso é que, apesar da desvalorização, ela mantém a quarta colocação no ranking global de bolsas, atrás de Deutsche Boerse (US$ 19 bilhões); CME Group (US$ 18,5 bilhões) e Hong Kong Exchanges (US$ 14,2 bilhões). Como o segundo trimestre mais fraco já está até mesmo refletido nas cotações, o foco de atenção dos investidores está no desempenho do terceiro trimestre. Por um lado, os dados de julho se mostraram ainda desanimadores. No entanto, a concretização da parceria com a CME, para o uso da Globex, a plataforma de negociação da bolsa americana, e a implantação do acesso direto (DMA, na sigla em inglês), podem reverter o quadro, ao menos para a bolsa brasileira.
O volume movimentado pela Bovespa em julho foi de R$ 124 bilhões, em queda de 6,3% sobre o mês anterior. A saída de capital externo somou R$ 7,626 bilhões. Na BM&F, a média diária de negócios em julho foi de 1,66 milhão de contratos, 4,8% inferior à de igual intervalo do ano passado. O analista da Itaú Corretora, Victor Mizusaki, destaca também que o preço médio dos contratos negociados na bolsa de futuros caiu 3% no mês passado, em relação ao verificado no segundo trimestre, o que também tende a impactar as receitas da companhia. Nas contas de Mizusaki, combinadas, BM&F e Bovespa estão sendo negociadas com desconto de 13% em relação a outras bolsas internacionais.
A Bradesco Corretora também acredita que os papéis não estão mais caros como na época da abertura de capital - de lá para cá, a desvalorização da BM&F S.A. é de 48% e da Bovespa Holding, de 31%. Os analistas acreditam que o quadro pode mudar neste semestre, caso se confirme a previsão de implantação do acesso direto ao pregão. Por esse mecanismo, para operar na bolsa, o investidor precisará apenas manter o cadastro em uma corretora, mas não terá de fechar operações com a intermediação de um corretor. Ele colocará suas ordens diretamente depois de ter liberado o acesso a um terminal de negociação. Esse dispositivo será oferecido a investidores de todo o mundo quando estiver funcionando a interligação do pregão doméstico com a Globex. Em princípio, os produtos da BM&F serão oferecidos em mais de 80 países e o número de terminais de negociação na bolsa subirá de 700 para mais de 100 mil.

GOL tem perda recorde no trimestre

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Uma combinação de gastos para reorganizar a Varig, alta dos custos com combustível e vôos mais vazios levaram a Gol Linhas Aéreas a registrar o maior prejuízo trimestral de sua história. A companhia aérea, segunda maior do país, teve perda de R$ 216,8 milhões entre abril e junho deste ano, contra lucro de R$ 157,1 milhões em igual período de 2007. No dia em que a Gol anunciou seu pior resultado, a TAM antecipou a divulgação de seus números, que estavam previstos para amanhã. Com ganhos de escala, aumento de tarifas e contenção de despesas, a líder de mercado mostrou lucro líquido de R$ 50,2 milhões no segundo trimestre, contra prejuízo de R$ 28,6 milhões nos mesmos meses do ano passado. Os resultados de ontem fecham o terceiro trimestre consecutivo em que a Gol registrou prejuízo e a TAM, lucro. Eles mostram, também, que os efeitos da compra da Varig, em março de 2007, fizeram a Gol interromper um ciclo de três anos - entre o terceiro trimestre de 2004 e o terceiro trimestre de 2007 - tendo apenas lucros e todos eles maiores do que os da TAM. Não por acaso, o valor de mercado da Gol em bolsa é, desde o primeiro trimestre deste ano, menor do que o da concorrente, embora tenha sido superior em todos os trimestres entre 2004 e 2007.
Entre abril e maio deste ano, apesar dos resultados finais opostos nos balanços das rivais, as duas companhias aéreas registraram praticamente o mesmo crescimento de receita, em torno de 27%. Como TAM e Gol detêm, juntas, 93% do mercado doméstico e 99% do segmento internacional, elas se aproveitam praticamente sozinhas do aumento da demanda por transporte aéreo no Brasil. A Gol elevou suas vendas para R$ 1,46 bilhão, ajudada por um aumento de 20% na demanda e de 7,7% no aumento dos preços (indicado pelo chamado "yield", que mostra quanto cada passageiro pagou por quilômetro voado). A TAM, por sua vez, registrou receita de R$ 2,51 bilhões, impulsionada por elevação de 15,5% na demanda e de 10,3% nos preços. Na linha dos custos operacionais, o aumento foi semelhante nas duas aéreas: avanço de 37% na TAM e de 34,5% na Gol. O componente mais relevantes foi, sem surpresas, o combustível, que sozinho representa mais de 40% do custo total. Na TAM, a conta do insumo saltou de R$ 641 milhões para R$ 989 milhões. Para a Gol, houve também impactos extraordinários nos custos de manutenção decorrentes da devolução de aeronaves.
A TAM conseguiu absorver mais o aumento de custos, tendo registrado lucro operacional (R$ 587,6 milhões), enquanto a Gol teve dificuldades em dilui-los e registrou perda operacional (R$ 71,5 milhões). Uma das razões para isso é que a TAM tem conseguido voar com aviões mais cheios cobrando tarifas maiores. Obtém, portanto, uma receita proporcionalmente maior em relação a sua oferta do que a concorrente. No segundo trimestre, a Gol conseguiu vender 64,6% dos seus assentos, quando a taxa necessária para cobrir os custos era de 77,8%. A TAM, ao contrário, voou com 70,4% dos aviões cheios, quando os custos exigiam 68,6%.
Ambas as empresas consumiram caixa para fazer frente à inflação dos gastos. Foi a linha das despesas, porém, que determinou a diferença entre as empresas - inclui gastos administrativos, comerciais e o resultado financeiro. No caso da Gol, elas subiram 53,5%, influenciadas por aumento nos gastos com vendas e fechamento de bases internacionais na Europa e no México, resultado do cancelamento dos vôos de longo curso, deficitários, da Varig. A TAM, por sua vez, pisou no freio e reduziu os gastos em 1,8%, principalmente com vendas. Ontem, em teleconferência, a Gol afirmou que deverá continuar registrando despesas de reestruturação da Varig até o fim do ano, mas estima ter, de forma consolidade, lucro no terceiro trimestre, entre julho e setembro. A companhia espera autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para integrar a Gol e Varig numa única estrutura e obter sinergias que devem gerar, segundo a empresa, economias anuais de R$ 180 milhões. As marcas, entretanto, serão mantidas separadas, garantiu o presidente da empresa, Constantino de Oliveira Jr. A companhia também cancelou a chegada de sete aviões e reduzirá em 5% o aumento de capacidade previsto. A teleconferência da TAM acontece amanhã.

Crise faz um ano e horizonte é incerto

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

São Paulo, 11 de Agosto de 2008
Há um ano, os mercados financeiros mergulhavam em mais uma crise, a das hipotecas subprimes, tendo como epicentro o mercado americano de crédito imobiliário. Em agosto do ano passado, um ponto em comum permeava os discursos de analistas quando o tema era a longevidade do ajuste necessário para afastar os riscos envolvidos. Boa parte doa analistas considerava limitados os potenciais efeitos do fim da bolha imobiliária nos demais mercados. O ajuste, acreditavam, seria pontual. Os prejuízos bilionários dos bancos, a redução no crescimento global e a forte volatilidade das bolsas jogaram por terra esta idéia.
A exposição do setor financeiro às suprimes - hipotecas de segunda linha, concedidas a quem normalmente não poderia ter crédito - surpreendeu. "Eu mesmo achava que não duraria muito, mas o choque nos bancos começou devagar, foi crescendo e ainda não terminou", avalia Guilherme da Nóbrega, economista-chefe da Itaú Corretora. "As perdas estão próximas de US$ 500 bilhões e podem ser muito maiores."
O medo de que a bolha imobiliária estourasse já vinha tirando o sono de muita gente, mas foi em agosto que os fatos marcaram de vez a nova crise. O dia mais nervoso ocorreu em 16 de agosto, uma quinta-feira. A Bovespa chegou a cair quase 9%, fechando com recuo de 2,58%, o dólar subiu 4,43% e o risco-país disparou 14%. Um dia antes, a financiadora imobiliária Countrywide Financial - maior empresa norte-americana do setor de hipotecas - havia feito um empréstimo de US$ 11,5 bilhões para enfrentar um problema de liquidez. Dois bancos centrais, o americano Fed e o Boj, do Japão, abriram os cofres e injetaram US$ 20 bilhões nos bancos para garantir a liquidez do sistema. A ação coordenada dos BCs ao longo da crise, embora não tivessem impedido uma forte alta nos spreads das linhas de crédito, foi determinante para evitar um colapso do sistema.
"O erro foi deixar a situação chegar onde chegou, mas depois não havia o que fazer a não ser sair em socorro das instituições e evitar um mal pior", diz Nóbrega, do Itaú. "Faltou muita coisa, um ambiente com boas praticas, e não um sistema baseado apenas na avaliação de risco das agências de rating, isto não se mostrou eficiente." Para Nóbrega, os instrumentos de controles estavam frouxos. "Vínhamos de um ciclo longo de crescimento dos EUA, com juros baixos e excesso de liquidez global e toda vez que ocorre um ciclo longo benigno, os instrumentos de vigilância e controle ficam frouxos, é normal."
Dados da consultoria UpTrend mostram que, desde setembro do ano passado, foram injetados US$ 860 bilhões no sistema financeiro, com linhas de crédito entre US$ 20 e US$ 75 bilhões em leilões. Também foram adotadas medidas para estimular o consumo, com pacote fiscal de US$ 168 bilhões, e mudanças regulatórias na tentativa de definir melhor o papel de cada agente fiscalizador e evitar que o problema se repita. A taxa básica americana sofreu sete cortes consecutivos, indo de 5,25% para 2% ao ano, incluindo uma reunião extraordinária. Outro fato marcante foi a compra do Bear Sterns pelo JP Morgan, pela bagatela de US$ 1 por ação, negócio tutelado pelo Fed americano. Tudo para evitar uma quebradeira de bancos e, principalmente, que o grande mal se estabelecesse e a economia americana entre numa recessão, o que arrastaria inevitavelmente outros mercados. Por enquanto, parece que deu certo.
"A economia está se desacelerando, mas acho que caminha mais para uma queda suave, não vejo um PIB americano negativo", avalia Roberto Padovani, economista-chefe do banco WestLB. Nóbrega, da Itaú Corretora, concorda. "Os reflexos ainda não se materializaram totalmente, mas a economia americana tem se mostrado forte, mais integrada e flexível", diz. Para o Brasil, o cenário de desaceleração global pode não ser tão ruim.
"A desaceleração reduz o preço das commoditires que afetam o desempenho das bolsas, mas este movimento pode ajudar o Brasil a controlar a inflação, o que é positivo", avalia Nóbrega, lembrando que a queda das commodities veio para ficar, colocando o nível dos preços em outro patamar. "Não dá para saber quando este movimento acaba, mas o efeito no Brasil é mais benéfico do que maléfico, faz coro Padovani.
Ao menos no curto prazo, a queda nas commodities que ajuda a política monetária doméstica não colabora em nada com as bolsas. Só este ano, a Bovespa acumula queda de 11,42%. Em Wall Street, o índice Dow Jones cai 11,54% este ano e o S&P 500 recua 11,72% "Acredito que haja uma recuperação suave das bolsas, não vejo que haja espaço para piorar muito", diz Padovani, do WestLB. "O ajuste nos preços das commodities deve perder força e o preço da bolsa, particularmente a brasileira, ficará atrativo."

O perigo da recuperação dos lucros

sábado, 9 de agosto de 2008

As empresas brasileiras, inclusive instituições financeiras, apresentaram, no primeiro semestre de 2008, uma significativa redução de margens de lucros - particularmente grave para um grande número delas quando calculada em valor real -, apesar do aumento de faturamento.Trata-se de uma conseqüência, basicamente, do forte aumento dos custos de produção, especialmente das empresas que dependem muito de commodities, cujos preços, no primeiro semestre, tiveram forte elevação.Em boa parte dos casos houve erro de cálculo nas estimativas de evolução dos custos, de modo que, numa fase de redução dos preços das commodities, as empresas podem sentir-se tentadas a recuperar as margens de lucros, especialmente se se deparam com uma demanda doméstica vigorosa, seja por efeito do aumento de remuneração do funcionalismo público, seja pela atualização generosa do Bolsa-Família, seja pela continuidade da forte expansão do crédito.Essa expansão, que os próprios bancos avaliam em 25% neste ano, é a resposta que estão dando à (pequena) redução dos seus lucros, além de cogitarem aumentar as tarifas dos seus serviços.No caso das empresas de outros setores, elas não levarão em conta a provável redução dos custos de produção, preferindo reparar o erro de cálculo do primeiro semestre aumentando suas margens, ainda mais que grande parte dessas empresas investiu no aumento da capacidade de produção ou da produtividade, devendo, portanto, arcar com o reembolso dos empréstimos contratados.Assim, estaremos diante de um novo fator de inflação, que poderá neutralizar a queda, que parece se consolidar, dos custos de produção. Essa realimentação inflacionária poderá encontrar mais impulso na desvalorização do real, que eleva os custos da produção.Diante desses fatores que podem atrasar o atual processo de redução da taxa de inflação, parece-nos que seria adequado tomar algumas medidas - além de dar continuidade, até o final do ano, à elevação gradual da taxa Selic. Uma delas seria um maior esforço para elevar a competição entre as instituições financeiras, de modo a evitar que a expansão do crédito se traduza em aumento dos custos. Outra medida seria a redução da demanda governamental, que contribuiria para abortar as tentativas de aumento dos preços pelas empresas. E, por fim, uma redução da carga tributária dessas empresas.



Receita Federal sobe 30% taxa sobre as chamadas bebidas quentes

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Viviane Monteiro, Jornal do Brasil
BRASÍLIA - O governo federal aumentou em 30% a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para as bebidas alcoólicas consideradas “quentes” nacionais e importadas, no setor industrial. O anúncio foi feito nesta quinta-feira pela Receita Federal do Brasil. Dentre as bebidas que terão os alíquotas acrescidas estão o vinho, uísque, runs, aguardentes, conhaques e batidas, mas não a cerveja. O aumento faz parte do decreto nº 6.501 publicado em 02 de julho e que entra em vigor em 1º de outubro.
Segundo o coordenador do Fisco, Helder Silva, desde 2003 que o setor não passava por reajuste. Ele disse que o objetivo da medida é acompanhar a evolução da inflação do setor, pois os preços ficaram congelados durante cinco anos, enquanto que a inflação do setor pode ter chegado até 30%. O decreto inicialmente começaria a vigorar em agosto, mas passou por algumas mudanças e agora vai passar vigorar apenas em outubro.
O governo não incluiu neste pacote o reajuste das alíquotas de cerveja, refrigerantes e água. Porém, Silva lembrou que o reajuste para tais bebidas estará na Medida Provisória 436, originária no Executivo que tramita no Congresso Nacional. Neste caso, serão alterados os cálculo da cobrança de IPI, PIS e Cofins. Silva não informou qual será o reajuste concedido as essas bebidas que pode entrar em vigor em janeiro do ano que vem.
O coordenador do Fisco calcula que as fabricantes de bebidas alcoólicas quentes farão um repasse de até 5% ao preço das bebidas ao consumidor final. A previsão é que quanto maior seja o preço da bebida maior será o reajuste ao consumidor. No entanto, Silva não quis estimar o impacto financeiro da medida sobre a arrecadação da Receita Federal.
O reajuste de 30% na alíquota do IPI varia conforme a classe das bebidas que representam as letras do alfabeto: de A a Z. Com o aumento do IPI, o piso das alíquotas fixas sobre o valor das bebidas alcoólicas subirá para R$ 0,14 a unidade nas fabricas, ante R$ 0,11. Se enquadram nesse valor as bebidas mais baratas, como vinho e cachaça de garrafa de 300 ml.
Já o teto da alíquota subirá para R$ 17,39, ante R$ 13,00, que é aplicado sobre o valor das bebidas mais sofisticadas, como o uísque importado e a vodka. No caso da cachaça, a alíquota subirá de R$ 0,34 para R$ 0,39 a unidade.
O especialista do Fisco afirmou que as alíquotas do IPI incidentes sobre os valores das bebidas alcoólicas quentes equivalem a cerca de 60% do preço do produto, por não ser considerado um produto prioritário da população. No caso do vinho, o percentual é de até 10%, que equivale ao percentual mínimo. O impacto menor sobre o vinho, disse Silva, decorre das características socioeconômicas do setor, cuja produção das vinícolas é feita por cooperativas, em sua maioria.
A partir de 1º de setembro todos os fabricantes de bebidas alcoólicas quentes terão de se enquadrar ao novo reajuste. Terão que informar à Receita Federal, pela internet, as características de suas bebidas fabricadas, para que o Fisco já comece a arrecadar o aumento no mês seguinte. Até então, todas as informações eram encaminhadas à sede da Receita Federal em Brasília, que centralizava os dados nacionais. Agora a operação será feita nos órgãos regionais, para facilitar o trabalho do Fisco.
– E mais fácil que o enquadramento fique no domicílio do próprio contribuinte – declarou.
O superintendente do Sindicato da Indústria de Bebidas (Sindibebidas) de Minas Gerais, Cristiano Lamego, afirmou que o aumento do imposto será repassado ao consumidor. Ele disse que as empresas não terão como reduzir a margem de lucro para arcar com esse aumento de “custo de produção”.
Lamego reclamou, ainda, da classificação das bebidas nas diferentes faixas de alíquotas. Ele citou também o exemplo da cachaça. Segundo o superintendente do sindicato, o IPI cobrado sobre a cachaça artesanal, produzida em alambique, será de R$ 2,23 por litro. E o imposto sobre a cachaça produzida industrialmente será de R$ 0,38.

Crise deixa exercício de previsões mais difícil

terça-feira, 5 de agosto de 2008

O que esperar do mercado nos próximos meses ou até no próximo ano? Volatilidade. O professor da Universidade da Califórnia em San Diego Alan Timmermann diz que não é possível arriscar uma resposta que vá muito além disso. Especialista em finanças, particularmente no estudo do mercado de ações e dos retornos dos ativos, Timmermann esteve no Rio na semana passada para participar do 8º Encontro Brasileiro de Finanças, realizado no Ibmec. Ele diz que os acontecimentos recentes na economia americana - derivados da crise das hipotecas de alto risco, os "subprimes" -, estão apresentando um cenário completamente novo, no qual fica mais difícil fazer previsões, inclusive das reações do mercado.
Na visão do professor, depois que as grandes perdas relativas aos subprimes começaram a vir à tona, os investidores passaram a se dar conta de que muitas das estratégias tradicionais que eram usadas talvez não são mais aplicáveis nesse momento. "Por exemplo, será que é hora de comprar ações de bancos porque elas já caíram tanto que se tornam uma oportunidade?", observa Timmermann. Ele lembra que, em muitos casos, os próprios bancos não sabem qual o tamanho exato dos prejuízos que sofrerão por conta da exposição a hipotecas, derivativos e outros tipos de ativo. "Acho que estamos todos aprendendo a lidar com essas incertezas em tempo real e isso vai levar um tempo", diz o especialista da Universidade da Califórnia. Por isso, afirma Timmermann, não será surpresa se o mercado continuar por um bom período sem tendência definida, entre altas e baixas, ou seja, mais volátil. Ele também não acredita que já tenham ficado para trás as últimas perdas causadas pelas hipotecas de alto risco. "Por um tempo considerável ainda vamos ter de lidar com incertezas que vão tornar mais difícil dizer se o mercado vai se mover para cima ou para baixo", analisa Timmermann. "Os efeitos sobre a economia devem se prolongar por 2009 ou até mesmo 2010", prevê o professor.
O mercado de ações dos Estados Unidos vai continuar sofrendo e contagiando os outros do mundo todo, acrescenta Timmermann. Porém, ele acredita que as perspectivas para a economia e para as empresas brasileiras são positivas e que, no fim das contas, apesar do contágio inevitável dos mercados, os fundamentos vão prevalecer. "Mas se deve esperar volatilidade também no Brasil, especialmente nas indústrias que são altamente dependentes dos mercados desenvolvidos", prevê. Por outro lado, o fato de ser um exportador de commodities coloca o Brasil numa posição mais confortável. Timmermann está ficando cada vez mais familiarizado com a economia e as empresas locais e não é apenas porque se casou com uma brasileira. "As companhias brasileiras estão mostrando que sua relevância na economia global está mudando; para os americanos, foi um choque ver a InBev comprar a empresa que faz a Budweiser, a Anheuser Busch", contou ele, rindo. "A empresa conseguiu obter recursos num momento difícil da economia global para essa aquisição."
Mas não é só. O professor diz que a Vale e a Embraer estão cada vez mais nas manchetes das publicações mais importantes de economia dos Estados Unidos e lembrou que a Petrobras também esteve em evidência por conta das descobertas da camada do pré-sal. "Outras empresas que começam a despertar atenção são as agrícolas ligadas ao etanol; há um interesse muito grande pelo assunto", diz. No evento, ele apresentou um trabalho que discute se é possível prever a distribuição de retornos no mercado de ações. "O que eu verifiquei é que é muito difícil prever os retornos médios dos mercados, mas há chances melhores de prever alguns detalhes que estão ligados a esses retornos", diz ele, acrescentando que esse resultado pode ser interessante para estratégias envolvendo opções de compra e de venda. O estudo mostrou ainda que é mais fácil prever altas do que baixas de mercados.