Crise deixa exercício de previsões mais difícil

terça-feira, 5 de agosto de 2008

O que esperar do mercado nos próximos meses ou até no próximo ano? Volatilidade. O professor da Universidade da Califórnia em San Diego Alan Timmermann diz que não é possível arriscar uma resposta que vá muito além disso. Especialista em finanças, particularmente no estudo do mercado de ações e dos retornos dos ativos, Timmermann esteve no Rio na semana passada para participar do 8º Encontro Brasileiro de Finanças, realizado no Ibmec. Ele diz que os acontecimentos recentes na economia americana - derivados da crise das hipotecas de alto risco, os "subprimes" -, estão apresentando um cenário completamente novo, no qual fica mais difícil fazer previsões, inclusive das reações do mercado.
Na visão do professor, depois que as grandes perdas relativas aos subprimes começaram a vir à tona, os investidores passaram a se dar conta de que muitas das estratégias tradicionais que eram usadas talvez não são mais aplicáveis nesse momento. "Por exemplo, será que é hora de comprar ações de bancos porque elas já caíram tanto que se tornam uma oportunidade?", observa Timmermann. Ele lembra que, em muitos casos, os próprios bancos não sabem qual o tamanho exato dos prejuízos que sofrerão por conta da exposição a hipotecas, derivativos e outros tipos de ativo. "Acho que estamos todos aprendendo a lidar com essas incertezas em tempo real e isso vai levar um tempo", diz o especialista da Universidade da Califórnia. Por isso, afirma Timmermann, não será surpresa se o mercado continuar por um bom período sem tendência definida, entre altas e baixas, ou seja, mais volátil. Ele também não acredita que já tenham ficado para trás as últimas perdas causadas pelas hipotecas de alto risco. "Por um tempo considerável ainda vamos ter de lidar com incertezas que vão tornar mais difícil dizer se o mercado vai se mover para cima ou para baixo", analisa Timmermann. "Os efeitos sobre a economia devem se prolongar por 2009 ou até mesmo 2010", prevê o professor.
O mercado de ações dos Estados Unidos vai continuar sofrendo e contagiando os outros do mundo todo, acrescenta Timmermann. Porém, ele acredita que as perspectivas para a economia e para as empresas brasileiras são positivas e que, no fim das contas, apesar do contágio inevitável dos mercados, os fundamentos vão prevalecer. "Mas se deve esperar volatilidade também no Brasil, especialmente nas indústrias que são altamente dependentes dos mercados desenvolvidos", prevê. Por outro lado, o fato de ser um exportador de commodities coloca o Brasil numa posição mais confortável. Timmermann está ficando cada vez mais familiarizado com a economia e as empresas locais e não é apenas porque se casou com uma brasileira. "As companhias brasileiras estão mostrando que sua relevância na economia global está mudando; para os americanos, foi um choque ver a InBev comprar a empresa que faz a Budweiser, a Anheuser Busch", contou ele, rindo. "A empresa conseguiu obter recursos num momento difícil da economia global para essa aquisição."
Mas não é só. O professor diz que a Vale e a Embraer estão cada vez mais nas manchetes das publicações mais importantes de economia dos Estados Unidos e lembrou que a Petrobras também esteve em evidência por conta das descobertas da camada do pré-sal. "Outras empresas que começam a despertar atenção são as agrícolas ligadas ao etanol; há um interesse muito grande pelo assunto", diz. No evento, ele apresentou um trabalho que discute se é possível prever a distribuição de retornos no mercado de ações. "O que eu verifiquei é que é muito difícil prever os retornos médios dos mercados, mas há chances melhores de prever alguns detalhes que estão ligados a esses retornos", diz ele, acrescentando que esse resultado pode ser interessante para estratégias envolvendo opções de compra e de venda. O estudo mostrou ainda que é mais fácil prever altas do que baixas de mercados.