Bolsa de Nova York entra em "bear market"

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Depois de passar os últimos pregões rondando o "bear market", o índice Dow Jones, o principal da Bolsa de Nova York, entrou oficialmente no território que marca queda de ao menos 20% desde o seu pico histórico. A Nasdaq, que reúne empresas de alta tecnologia, também já caiu mais de 20% desde o seu nível máximo.Com a queda de 1,46% de ontem, o índice formado pelas 30 principais companhias americanas já se desvalorizou em 20,82% desde 9 de outubro do ano passado, quando atingiu o seu nível máximo. O Dow Jones fechou ontem a 11.215,51 pontos (menor nível desde 14 agosto de 2006) e há analistas que estimam que ele terminará o ano em 10 mil pontos. No ano, ele acumula perdas de 15,45%.A Nasdaq caiu 2,32% ontem e já retrocedeu 21,25% desde o seu maior nível, em 31 de outubro do ano passado. O S&P 500 (mais amplo, reúne 500 companhias) também está próximo do "bear market": teve queda de 19,4% desde o seu pico, em 9 de outubro de 2007. Ontem, ele se desvalorizou em 1,82%.A queda de ontem foi atribuída principalmente ao relatório do Merrill Lynch que não descartou que a GM entre em concordata; à alta do preço do petróleo e às preocupações com o mercado de trabalho americano e com o possível corte de juros do Banco Central Europeu.O petróleo também contribuiu para o dia ruim do mercado, subindo quase 2% e se aproximando dos US$ 144.Hoje serão divulgados os dados de emprego nos EUA e a decisão sobre os juros nos 15 países que usam o euro como moeda. A expectativa é que a entidade eleve a taxa, aumentando o valor do euro ante o dólar.A previsão é a de que os dados de desemprego do mês passado sejam ruins -a consultoria ADP estima que o setor privado tenha cortado 79 mil postos de trabalho em junho. Nos cinco primeiros meses do ano, o mercado (incluindo o setor público) cortou 324 mil vagas e a taxa de desemprego chegou a 5,5% em maio, seu maior nível desde junho de 2004.JapãoO índice Nikkei 225, o principal da Bolsa de Tóquio, caiu ontem pelo décimo dia seguido, na sua maior seqüência de quedas em 43 anos. Nesse período, ele se desvalorizou em 8,1% -ontem, ele retrocedeu 1,3%.Apesar da desvalorização nos últimos dias, a Bolsa de Tóquio não está entre as que mais perderam neste ano. Ela acumula queda de cerca de 13%. Xangai já perdeu quase 50%, e Frankfurt e Paris, mais de 20%.

Ibov: O número da sorte (ou azar) é 58 mil


O mercado, que já tinha acendido a luz amarela com as quedas de junho, com a despencada de ontem acendeu a vermelha que, entre outras coisas, significa que os investidores estão muito preocupados com o que irá acontecer. O Índice Bovespa fechou ontem em queda de 3,61%, aos 61.106 pontos, o menor nível desde 31 de março, quando fechou aos 60.968 pontos. Na parte de fundamentos, já se sabe que a crise do setor imobiliário americano, a inflação crescente e o processo de aperto monetário no mundo contribuem para um momento complicado para o mercado. Já a análise técnica - que se baseia nos movimentos passados dos gráficos para definir o que pode acontecer no futuro - aponta que, nas últimas semanas, o Ibovespa rompeu vários suportes (pontos que no gráfico o índice tem mais dificuldade de cair e que poderia desencadear um movimento de compra). Pelo andar da carruagem, o Ibovespa aos 58 mil pontos é o nível mais importante e que irá definir o destino da bolsa. Se o índice chegar a essa pontuação e cair abaixo dela, isso deve significar o fim de um longo período de valorização da Bovespa, que começou em outubro de 2002, depois de o Ibovespa chegar ao fundo do poço, aos 8.224 pontos. Se isso acontecer, o mercado entrará num longo ciclo de vacas magras, que pode durar anos, assim como foi com a alta.No entanto, não é isso que os analistas técnicos ouvidos pelo Valor acreditam que possa ocorrer. Para o grafista da Itaú Corretora, Márcio Lacerda, o Ibovespa deve encostar nos 58 mil pontos e tomar impulso suficiente para buscar os 82 mil pontos, que seria o novo objetivo do índice, um recorde histórico e um nível de resistência - ponto que no gráfico o indicador tem mais dificuldade de subir e que poderia provocar um movimento mais forte de venda. "Quando o mercado entra em pânico, como está agora, é sinal de que há os últimos vendedores e que, portanto, as ações estão muito próximas de uma virada", diz Lacerda. Antes desses 58 mil decisivos e do retorno das valorizações, o Ibovespa ainda deve testar dois outros suportes importantes: um aos 61 mil pontos, o que está bastante próximo, e o outro aos 59.400 pontos.Segundo o analista técnico da Ativa Corretora, Rubens Góes, o Ibovespa abandonou um canal de alta de curto prazo em 20 de junho, quando fechou aos 64.600 pontos, abaixo do suporte de curto prazo que era aos 65.500 pontos. Neste momento, o próximo suporte de curto prazo é aos 60 mil pontos e, depois, aos 58 mil pontos. Se o índice furar esses dois níveis, deve ir buscar os 56 mil pontos, que também é o suporte da tendência de alta de longo prazo, que começou em outubro de 2002. "Se o Ibovespa terminar este mês abaixo dos 56 mil pontos, significa que a bolsa entrou num longo ciclo de baixa", diz Góes. No caso de esse cenário se concretizar, um dos primeiros suportes do indicador seria na casa dos 53 mil pontos, para o qual ele caminharia, portanto. Assim como o analista técnico da Itaú, Góes não acredita que a bolsa está prestes a mergulhar num extenso período de desvalorizações e seus argumentos moram no terreno fundamentalista, até para provar que esse tipo de profissional não se atém apenas ao mundo dos gráficos. "O Brasil continua crescendo e economias como a China ainda devem demandar muita commodity de países produtores, como é o nosso."O recorde de operações a termo em 23 de junho, de R$ 7,4 bilhões, enquanto o fluxo de saída dos estrangeiros na Bovespa chegou a R$ 7,4 bilhões no mês de junho já era um prenúncio de que as vendas ganhariam força, diz o analista técnico da Link Investimentos, Márcio Noronha, segundo apurou a repórter Adriana Cotias. No ano, o saldo está negativo em R$ 6,657 bilhões, "Eram as ações saindo da mão forte (estrangeiro) para a mão fraca, a pessoa física, 'comprada' (apostando na alta), e que estava operando de forma alavancada, acima do seu patrimônio ", afirma. Noronha também acredita que, após ter passado a barreira dos 61.200 pontos ontem, o Ibovespa vai buscar agora os 58 mil pontos. Ele lembra que em todos os ciclos de altas anteriores ocorridos de 1990 para cá, em nenhuma das quatro correções observadas os mercados deixaram de corrigir menos do que 57%. Se tiver comportamento similar e realmente estiver terminando o ciclo de alta atual - que foi de outubro de 2002, até o pico de 74 mil mil pós-grau de investimento -, o índice pode voltar à casa dos 30 mil pontos em dois ou três anos. "Pela análise técnica é uma possibilidade, mas bolsa não tem dono."A luz vermelha também se acendeu no mercado americano. O fechamento de ontem do Índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, representa uma queda de 20% ante sua máxima em outubro do ano passado. Historicamente, um mercado que cai 20% da sua máxima já é considerado "bear market" (mercado de baixa). No Brasil, o Ibovespa já caiu 17% desde a sua máxima de 73.920 pontos durante o pregão de 29 de maio. No entanto, se a bolsa hoje repetir o mesmo desempenho lastimável de ontem, o urso também sairá da hibernação no Brasil.