Petróleo dá o tom nos dois extremos

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Valor Econômico - 20/06/2008
O desempenho do petróleo ditou o rumo da Bovespa ontem. O primeiro contrato do barril, com vencimento em julho, do tipo WTI, negociado em Nova York, fechou a US$ 131,93, com queda acentuada de 3,48%. Essa despencada ocorreu principalmente por causa da notícia de que a China irá subir em até 18% os preços do diesel e da gasolina no mercado doméstico. O temor é de que o aumento limite o crescimento da demanda desses produtos e, conseqüentemente, prejudique o enorme crescimento desse país e, por tabela, de outras nações. O preço da commodity também despencou com a expectativa de que a Arábia Saudita, maior exportador do mundo do produto, aumente a produção.A queda no preço do barril de quase US$ 5 em um único dia refletiu de formas muito diferentes no pregão da Bovespa. As ações da Petrobras, por exemplo, foram para o campo negativo juntamente com a commodity. As preferenciais (PN, sem direito a voto) caíram 3,30% e as ordinárias (ON, com voto), 3,45%. Como os dois papéis juntos representam mais de 15% do Índice Bovespa, o indicador foi para a mesma direção dessas ações e do petróleo, fechando em queda de 0,75%, aos 66.590 pontos. Essa é a menor pontuação desde 29 de abril - um dia antes de o Brasil se tornar grau de investimento pela primeira vez -, quando o índice fechou aos 63.825 pontos. Em outras palavras: o cenário ficou tão ruim nas últimas semanas que é como se o Brasil não tivesse sido alçado ao seleto grupo de países considerados seguros para se investir por duas das maiores agências de classificação de risco - a Standard & Poor's e a Fitch Ratings.Houve, no entanto, quem tenha se dado bem com o tombo do petróleo. As grandes felizardas foram principalmente as companhias aéreas, que usam querosene de aviação, e as petroquímicas, que usam a nafta como matéria-prima. As preferenciais da TAM subiram 4,76% e as da Gol, 3,31%. Já as PNAs da Braskem tiveram alta da 3,35%.Por incrível que pareça, faz muito mais sentido os papéis das aéreas serem influenciados pelo comportamento do petróleo do que os da Petrobras, acredita o gerente de renda variável da Modal Asset Management, Eduardo Roche. "A alta da commodity afeta na veia os custos das companhias de aviação, enquanto que, no caso da Petrobras, demora muito para chegar na ponta final, uma vez que a empresa não ajusta os seus preços juntamente com a valorização do petróleo, diferentemente de todas as outras petrolíferas do mundo, que mexem instantaneamente", explica Roche.As ações da Petrobras sofreram ontem com outros fatores além do desempenho da commodity. Um deles é o fato de que a companhia está brigando na Justiça com a Agência Nacional do Petróleo (ANP) pela a prorrogação da concessão de um bloco na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro. Também comenta-se no mercado que a estatal brasileira terá de aumentar a importação de petróleo para atender à crescente demanda interna, a preços bem mais altos, e sem repassar os custos para os preços locais, lembra o estrategista de renda variável para pessoa física da Itaú Corretora, Fábio Anderaos de Araújo. "Com esse cenário, as expectativas são de que o resultado da Petrobras este trimestre possa decepcionar, com as margens de ganhos ficando mais estreitas", diz Araújo.A grande importância das commodities na Bovespa vem preocupando grandes investidores internacionais. Acreditando que haverá quedas nos preços desses ativos, o banco JP Morgan Chase rebaixou de neutra para abaixo da média do mercado ("underweight") a recomendação para as ações brasileiras. O JP não é o primeiro banco que, nos últimos dias, se mostra com a pulga atrás da orelha com relação ao mercado de ações. Portanto, vale a pena, no mínimo, o investidor ficar com os olhos e ouvidos atentos à qualquer sinal de deterioração dos movimentos da bolsa.